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Economia e políticas públicas

Opinião|O PIB e a confiança

Segundo analistas, ou a economia se recupera em bom ritmo ou fica quase parada em 2017. Tudo depende de a melhora recente nas expectativas se traduzir em aumento da produção. Se o otimismo for falso alarme, porém, os pequenos sinais positivos na divulgação do PIB do segundo trimestre de 2016 não vão conduzir a uma efetiva aceleração.

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Atualização:

O PIB do segundo trimestre não trouxe grandes surpresas para o mercado, sendo em termos gerais ligeiramente pior que a mediana das expectativas. Por outro lado, os resultados reforçaram uma visão que vem ganhando tração entre os analistas, sobre o caráter de certa forma binário das expectativas de retomada da economia em 2017 - as coisas podem ir muito bem ou muito mal, a depender do que resultar da notável melhora recente dos indicadores de expectativas dos índices de confiança.

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Essa melhora das expectativas não se traduziu até agora em avanços de intensidade correspondente nos indicadores qualitativos sobre a situação presente, que constam também dos índices de confiança; e tampouco dos números reais da economia, em que pesem alguns sinais recentes de que o pior já passou (incluindo o PIB no segundo trimestre), como no caso da indústria.

Na visão de diversos analistas, a consolidação da melhora da confiança e sua transmissão para a economia real dependem fundamentalmente do sucesso do governo em encaminhar politicamente as medidas de ajuste fiscal, com destaque para a PEC de limite de gastos e a reforma da Previdência. Fernando Rocha, sócio e economista-chefe da gestora JGP, diz que sua projeção de crescimento do PIB em 2017 é de 1,5%, mas este número, na verdade, reflete uma média de cenários binários: ele crê que é mais provável que ou cresça perto de zero ou na faixa de 2,5% a 3%.

"É uma média com a cabeça no forno e o pé na geladeira", resume Rocha. Visão muito parecida é a de Alexandre Ázara, economista chefe da gestora Mauá Capital. Em relação ao resultado do PIB no segundo trimestre, o economista diz que "não dá para comemorar fundo de poço e daqui para frente vai depender da confiança, podemos ir em 2017 para zero ou 2,5%".

Como explica Rocha, a fotografia mostrada pelo PIB do segundo trimestre é a de uma economia ainda em queda, mas com um começo de recuperação na margem na indústria e nos investimentos, que foram justamente os primeiros a cair, e agora partem também na frente neste ensaio de reação. O problema é que os componentes maiores e mais inerciais do PIB, os serviços e o consumo das famílias, que demoraram mais a entrar em retração, agora também prosseguem piorando, puxados pela deterioração do mercado de trabalho que tipicamente se estende além do pior ponto da recessão.

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"O grande risco para a recuperação é uma decepção com o ajuste fiscal que aborte a retomada antes que ela chegue aos serviços", diz o economista. Se, porém, o governo Temer (confirmado hoje em caráter definitivo, com o impeachment de Dilma Rousseff) tiver sucesso no encaminhamento do acerto das contas públicas, a tendência é que a melhora da indústria se transmita aos serviços, assim como a dos investimentos ao consumo, atingindo finalmente o mercado de trabalho e estancando e revertendo a sua piora. Neste caso, raciocina Rocha, o ano de 2017 poderia antecipar o crescimento mais vistoso que muitos analistas por enquanto acham que só viria em 2018.

Solange Srour, economista-chefe da gestora ARX, no Rio, também vê o desempenho da economia em 2017 como fundamentalmente ligado aos índices de confiança e à relação destes com a expectativa de ajuste fiscal. Ela ainda prevê queda do PIB na margem no terceiro trimestre, mas menor do que o recuo de 0,6% do segundo trimestre. O que mais importa no momento, entretanto, na visão da gestora, é como Temer e sua equipe econômica vão conseguir aprovar o limite dos gastos e a reforma da Previdência, ao longo deste ano e do próximo, com o mínimo possível de desfigurações. (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é jornalista do Broadcast

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 1º/9/16, quinta-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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