Fernando Dantas
01 de dezembro de 2021 | 20h18
A reponderação dos dados da PNADC por sexo e idade, que, entre outros aperfeiçoamentos, retificou problemas causados pela coleta de informações por telefone durante a pandemia, recolocou a população em idade de trabalhar (14 anos ou mais, segundo a definição do IBGE) numa trajetória compatível com a evolução demográfica brasileira.
A correção, que se estende do primeiro trimestre de 2012 até o segundo trimestre de 2021, foi muito substancial. E, inclusive, corrige uma aceleração do crescimento da PIA durante a pandemia que era demograficamente inexplicável, como nota Daniel Duque, pesquisador do Ibre-FGV e doutorando da Norwegian School of Economics, em Bergen, na Noruega.
No segundo trimestre de 2021, a PIA corrigida registrou 171,486 milhões pessoas, ou robustos 5,663 milhões a mais que os 177,149 milhões da série anterior.
Na nova foto, a PIA ficou mais jovem, com mais gente entre 18 e 39 anos (8,8 milhões) e muito menos gente de 40 para cima (-14,5 milhões).
Uma das consequências de a PIA ter sido retificada para baixo é que a taxa de participação – a população economicamente ativa (PEA) dividida pela PIA – ficou maior.
A diferença da taxa de participação na séria antiga e na reponderada – nesta última o indicador também cresceu muito na pandemia, junto com o aumento inexplicável da PIA – é igualmente muito significativa. De acordo com o IBGE, em junho-julho-agosto deste ano, a taxa de participação reponderada foi de 61,5%, enquanto pela série antiga registrava-se apenas 58,6%.
Segundo Duque, as mudanças não mexeram muito com a tendência da taxa de participação, mas a recuperação do indicador depois da forte queda no início da pandemia tornou-se um pouco mais rápido na nova série.
Com a reponderação, a trajetória da taxa de desemprego também não sofreu alterações significativas, limitando-se a ficar um pouco mais alta no seu pico durante a pandemia. Em junho-julho-agosto de 2020, o desemprego chegou a 14,8% na série reponderada, comparado a 14,4% na série antiga.
O economista nota ainda que, com a reponderação, a renda do trabalho ficou consideravelmente abaixo do nível anterior, em cerca de 1% a 2%. Na sua interpretação, a reponderação trouxe trabalhadores de menor renda e qualificação para a força de trabalho, o que deve ter puxado a média salarial para baixo.
Em relação aos números da PNADC de setembro propriamente dita (relativa ao período julho-agosto-setembro), chamou a atenção de Duque a forte queda da renda do trabalho, de 4% em relação a abril-maio-junho deste ano, e de 11,1% ante o mesmo trimestre (julho-agosto-setembro) de 2020.
Para o economista, isso se deve principalmente à aceleração da inflação, ultrapassando com folga os reajustes nominais obtidos pelos trabalhadores.
Também quando se toma o aumento da população ocupada (PO), o destaque positivo do mercado de trabalho recentemente, nota-se na mensalização da taxa (realizada pelo Ibre) uma tendência de desaceleração nos três meses até setembro.
Isso pode estar ligado à desaceleração da atividade e também ao fato de que a taxa de participação já se aproximou bem mais do seu nível histórico (o que se viu na reponderação).
O indicador era de 63,4% em fevereiro de 2020, pré-pandemia, caiu para um vale de 56,7% em julho do mesmo ano, e em setembro de 2021 já estava em 61,9%.
Duque explica a relação da recuperação da taxa de participação com o aumento da população ocupada (PO): “Uma taxa de participação bem mais próxima do nível normal significa um crescimento menor do número de pessoas buscando emprego, o que também limita a criação de empregos”.
Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)
Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 30/11/2021, terça-feira.