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Economia e políticas públicas

Opinião|O que 'não' fazer no governo

Novo livro organizado por Marcos Mendes, do Insper, disseca em 25 capítulos por 33 autores as causas, a implantação e as consequências de inúmeras políticas públicas ruins que fizeram o Brasil piorar nas últimas décadas.

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Atualização:

Num ano eleitoral, costuma haver uma intensa produção de agendas de políticas públicas, seja diretamente para candidatos ou como sugestões abertas para todos.

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Em 30 de maio, será lançado um livro que curiosamente pode ser considerado uma "antiagenda". Trata-se de "Para Não Esquecer - Políticas Públicas que empobrecem o Brasil".

Organizado pelo economista Marcos Mendes, pesquisador do Insper, o livro, ao longo de 25 capítulos escritos por 33 autores, radiografa as causas, a implementação e as consequências de dezenas de políticas públicas ruins executadas no Brasil ao longo dos últimos 20 a 30 anos.

É difícil resistir à metáfora futebolística de que esse é um livro voltado mais a não tomar gol do que a marcá-los. No Brasil, não errar, ou reduzir a quantidade de erros, já é um imenso passo para a frente em termos de governança e políticas públicas.

E, dissecando as políticas públicas equivocadas, também se entende como formular e implantar políticas públicas acertadas, que aumentem, e não reduzam, o bem-estar geral da sociedade.

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Mendes nota que políticas públicas são fundamentais para promover o bem-estar nas áreas em que ele não é produzido apenas pelas interações contratuais privadas.

Do controle da poluição a lidar com eventos de imensa magnitude como a pandemia, passando por inúmero temas e objetivos como educação, saúde, segurança, promoção do crescimento econômico, redução da pobreza e a desigualdade etc., políticas públicas bem formuladas e executadas são essenciais.

E, de forma inversa, políticas públicas mal desenhadas e implementadas são perversas e, na melhor das hipóteses, apenas desperdiçam recursos que poderiam ser melhor aproveitados, mas no mais das vezes criam distorções e geram mais perda de bem estar difuso do que o ganho específico dos grupos que porventura delas se beneficiem.

Mendes nota que, entre as principais causas de más políticas públicas, estão os diagnósticos errados e o lobby de grupos de pressão que delas se beneficiam no contexto de um sistema político fragmentado e pouco funcional.

Assim, diante da baixa taxa de investimento, busca-se a solução de financiamentos por bancos públicos, por vezes com direcionamento político, que acabam bancando projetos de baixa qualidade. Quando, na verdade, o baixo nível de investimento está mais ligado à insegurança jurídica, problemas nos mercados de capitais e desequilíbrios macroeconômicos do que à simples falta de crédito.

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Um exemplo abordado no livro é o fundo soberano criado no governo Lula e extinto por Temer. "Em teoria iria resolver vários problemas, da melhora da gestão da poupança do governo ao aumento do investimento público, mas na prática o governo não tinha poupança para colocar no fundo, que esteve em vigor durante vários anos, teve diversos problemas e foi fechado", aponta o economista.

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Outro tema importante do livro é o sistema tributário brasileiro, hipercomplexo, caro, ineficiente e difícil de cumprir. Mendes observa que "soluções" como criar regimes especiais para determinados tipos de empresa ou empreendedor, como o Simples e o MEI, aumentam a complexidade e as distorções do sistema como um todo. Ou desonerações criadas como "temporárias", como as relativas à folha de pagamento introduzidas na crise de 2008-09, se eternizam.

Em alguns casos, ele continua, a sociedade aprende com erros e cria mecanismos institucionais para evitá-los. Como exemplo, ele cita a dificuldade de Bolsonaro de impor à Petrobrás uma política eleitoreira de preços de combustível em função da Lei das Estatais e das melhorias na governança da estatal, um aprendizado da sociedade com a crise do Petrolão e da intervenção na Petrobras.

Por outro lado, a pressão da economia política deficiente do Brasil em prol de políticas públicas erradas é incessante. Mendes até ironiza que a demora na publicação do livro deu espaço para que erros neles tratados ressurgissem como novas propostas. Por exemplo, o projeto de aumentar os limite de faturamento para inclusão no Simples, sendo que o regime brasileiro já inclui empresas muito maiores do que as políticas desse tipo em outros países, inclusive desenvolvidos.

Ele cita também a própria tentativa de manipulação de preços de combustíveis e também iniciativas com a revogação de um reajuste de energia no Ceará e as propostas de mexer no ICMS de energia "para baixar o preço na marra" e de construir gasodutos que não se justificam.

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O livro, uma iniciativa do Insper e da Fundação Brava aborda áreas como política fiscal, política monetária, energia, educação, empresas estatais,  integração econômica com o exterior, previdência e assistência social.

Segundo Mendes, "não é fácil remar contra a maré de todas as motivações de economia política para a más políticas públicas, mas os únicos antídotos são bons diagnósticos, avaliação constante, aprendizado com os erros e transparência para que fique claro para a sociedade quais foram os erros, suas causas e consequências".

Alguns nomes de destaque na lista de autores dos diversos capítulos são os de Edmar Bacha, Samuel Pessoa, Ricardo Paes de Barros, Bernard Appy, Elena Landau, Simon Schwartzman e o próprio Mendes. Haverá apenas disponibilização em e-book, que será gratuita.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 20/5/2022, sexta-feira.

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Opinião por Fernando Dantas
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