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Economia e políticas públicas

Opinião|O teste das eleições

Cientistas políticos veem eleições municipais como momento em que lideranças nacionais, sejam protagonistas já conhecidos ou "outsiders", darão mostras do tamanho do seu cacife político.

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Atualização:

As eleições municipais de 2016 podem servir de teste para lideranças nacionais de olho nas eleições presidenciais de 2018, segundo cientistas políticos ouvidos pela coluna. Adicionalmente, a campanha deste ano testará os efeitos da nova regra que proíbe o financiamento de empresas.

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Para Octavio Amorim Neto, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape/FGV), uma eventual vitória de João Dória (PSDB) na capital de São Paulo seria importante para cimentar a candidatura presidencial do governador tucano Geraldo Alckmin, assim com um triunfo do atual prefeito, Fernando Haddad, seria decisivo para que Lula e o PT mantivessem alguma competitividade em 2018.

Da mesma forma, é relevante para Aécio Neves que João Leite, candidato a prefeito de Belo Horizonte, que lidera na última pesquisa de intenção de voto, consiga vencer. Os resultados das eleições municipais podem ser importantes também para fortalecer outros grupos e lideranças de olho num papel de maior protagonismo em 2018, como Marina Silva da Rede, Ciro Gomes do PDT e o PSB.

Amorim observa que mesmo a prevista candidatura presidencial de extrema-direita de Jair Bolsonaro (PSC) poderia ser beneficiada a depender do desempenho do seu filho Flávio Bolsonaro, do mesmo partido, nas eleições municipais do Rio, em que aparece em terceiro lugar, com 11% das intenções de voto, na última pesquisa.

O cientista político Ricardo Ribeiro, analista da consultoria MCM, nota que, com os grandes escândalos que torpedearam frontalmente o PT, mas atingiram também PMDB e PSDB, "a política brasileira está mais aberta a 'outsiders'". Ele observa que, como de costume, Celso Russomano e Marcelo Crivella, do PRB, partido ligado à Igreja Universal, estão partindo na frente nas pesquisas de opinião para as prefeituras de, respectivamente, São Paulo e Rio. Em outras eleições, essa liderança inicial não se sustentou e ambos foram derrotados. Uma variável a ser observada agora, portanto, é se as mudanças recentes no ambiente político permitirão que esses candidatos - que de certa forma são outsiders em relação aos protagonistas tradicionais - retenham sua liderança ao longo da campanha.

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Em relação à importância do resultado da eleição municipal para o governo Temer, não há consenso entre os cientistas políticos ouvidos. Para Amorim, um resultado frustrante para os principais partidos que apoiam o governo Temer, como o PMDB, PSDB, PP e PSD, pode ser um complicador em 2017, ano importante para a aprovação das reformas constitucionais e outras propostas legislativas do presidente em exercício. "Se os resultados não forem bons, a base pode ficar mais arredia em relação a propostas mais ousadas em termos de reformas previdenciária, trabalhista e política", diz o cientista político.

Já para Ribeiro, embora haja alguns aspectos de preparação para 2018 - ele cita a disputa intratucana em São Paulo, entre Alckmin, que apoia Dória, e José Serra, ministro das Relações Exteriores, um dos responsáveis pela aproximação entre Marta e seu vice, Andrea Matarazzo, que trocou recentemente o PSDB pelo PSB -, "o governo Temer não estará em jogo nessas eleições, que terão caráter mais local".

Na mesma linha vai o cientista político e articulista Celso de Barros, para quem, com exceção de São Paulo, a campanha de 2016 não deve ser nacionalizada.

Os cientistas políticos são unânimes na visão de que o PT é o partido ameaçado de uma derrota mais contundente na eleição municipal, embora Amorim considere que a nova regra eleitoral que proíbe financiamento por empresas pode beneficiar partidos com maior capilaridade, como PT e PMDB. Barros acrescenta que a mudança pode favorecer candidaturas de celebridades e candidatos de igrejas e sindicatos. Ele também vê risco eleitoral para o PSDB que, caso tenha um resultado muito fraco, pode recair ainda mais na já incômoda posição de coadjuvante do jogo político presidencial, com reflexos em 2018. (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é jornalista do Broadcast

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Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 24/8/16, quarta-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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