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Economia e políticas públicas

Opinião|Os metais que se beneficiam com a transição energética

Estudo do FMI prevê forte e prolongada alta de cobre, níquel, cobalto e lítio, metais que serão muito demandados com acordos para conter o aquecimento global.

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Foto do author Fernando Dantas
Atualização:

Um carro elétrico demanda cinco vezes mais metais como cobre, níquel, cobalto e lítio do que um automóvel convencional. Esse é apenas um exemplo de como a transição energética para garantir as metas climáticas acordadas entre as nações pode elevar muito a demanda por diversos tipos de metais nas próximas décadas.

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Estudo que acaba de ser divulgado do departamento econômico do FMI (Lukas Boer, Andrea Pescatori e Martin Stuermer), mencionado no recém-lançado  World Economic Outlook (WEO) do Fundo, trata justamente de como a transição energética pode afetar os mercados daqueles metais.

Os pesquisadores modelam o efeito da transição no preço dos metais, usando técnicas para separar esses impactos de choques que afetem a demanda global como um todo. Em outras palavras, querem medir a alta dos metais por causa da transição energética, mas não a que vem de outras causas.

Uma das várias técnicas utilizadas para desembaraçar esses efeitos é usar na modelagem uma commodity que não é afetada pela transição energética, como o algodão. Eles empregam uma base de dados que recua muito no tempo para calcular as elasticidades da oferta dos metais aos aumentos de preços, com parte da amostra se iniciando em 1879.

Para projetar o aumento do consumo dos metais na transição energética, foram utilizados cenários da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês, pela qual é conhecida internacionalmente).

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Com exceção do lítio, todos os outros metais mencionados acima são bastante inelásticos no curto prazo (isto é, a oferta responde pouco à alta de preços pelo aumento da demanda), mas a elasticidade aumenta no longo prazo.

Assim, um choque de demanda que eleve o preço desses metais em 10% aumenta no mesmo ano a oferta de cobre em 3,5%, a de níquel em 7,1%, a de cobalto em 3,2% e a de lítio em 16,9%. Após 20 anos, o mesmo choque inicial aumenta a oferta de cobre em 7,5%, a de níquel em 13%, a de cobalto em 8,6% e a de lítio em 25,5%.

Os autores encontram que os quatro metais se tornarão, efetivamente, gargalos na transição energética. Ajustados pelas inflação, os preços atingirão níveis semelhantes aos recordes do passado, mas de forma sustentada e por períodos muito mais longos.

O níquel, cobalto e o lítio teriam altasporcentuais na casa das centenas, enquanto o cobre se elevaria em 60%. Se as políticas nacionais permanecessem como hoje - isto é, sem transição energética - os preços dos metais ficariam no nível de 2020, na projeção da IEA.

Tudo isso, na verdade, acaba sendo uma boa notícia para empresas e países produtores desses metais. Se o plano de zerar emissões globais dentro de algumas décadas for implementado, o boom de demanda pode quadruplicar o valor da produção global de metais, atingindo US$ 13 trilhões apenas nos quatro produtos mais associados à transição energética, mencionados acima, nos próximos 20 anos. Esse valor seria próximo de toda produção de petróleo no mesmo período.

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Os autores, claro, fazem as ressalvas habituais aos seus próprios achados, que obviamente são conclusões bastante incertas. Avanços tecnológicos e decisões de governo, ambos variáveis muito difícil de prever, interferem diretamente no cenário de projeções do estudo.

De qualquer forma, as conclusões do trabalho auguram bem para países como o Chile, responsável por cerca de 30% da produção global de cobre e por volta de 20% da produção de lítio (e, neste segundo caso, detentor de mais de 40% das reservas mundiais), como aparece em uma ilustração do último WEO.

Outro país que pode ser beneficiado é a Austrália, produzindo quase metade do lítio do mundo. Já o Brasil tem grandes reservas de níquel, mas pequena produção.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

O colunista sai de férias e volta a escrever esta coluna em 3/11/2021, quarta-feira.

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Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 15/10/2021, sexta-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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