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Economia e políticas públicas

Opinião|Prêmio Nobel "criativo e elegante"

A "solução" encontrada na premiação do Nobel de Economia de 2013 foi "sofisticada, criativa e elegante", para Aloisio Araújo, da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas no Rio (EPGE/FGV), um dos economistas brasileiros de maior destaque acadêmico. Atualmente professor visitante em Harvard, Araújo é membro da exclusiva Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.

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Atualização:

A escolha tripla deste ano chamou a atenção de muitos analistas por premiar simultaneamente Eugene Fama, associado à ideia dos "mercados eficientes", e Robert Shiller, um dos mais importantes analistas da "exuberância irracional" (título de um dos seus livros) dos mercados.

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Fama, na verdade, foi muito criticado na esteira da grande crise global, como alguém que teria ajudado a solidificar a ideia liberal de que as autoridades econômicas não devem intervir e devem deixar os mercados buscarem o seu próprio equilíbrio.

Araújo, no entanto, acha que o Riksbank, o banco central sueco (responsável pelo Nobel de Economia), acertou na escolha, porque "reuniu ângulos diferentes da questão do preço dos ativos, que eu não vejo como necessariamente contraditórios".

O economista acrescenta ainda que o terceiro nome premiado, de Lars Peter Hansen, tem um trabalho altamente técnico, e poderia até ter ganho por suas contribuições à macroeconomia. No caso da análise do preço dos ativos, que foi o tema central do Nobel deste ano, Hansen, segundo Araújo, contribuiu com "estudos sofisticadíssimos" sobre a taxa de juros pela qual se desconta a renda futura dos ativos. "É uma contribuição mais metodológica", ele comenta.

Já sobre o aparente contraste entre os achados de Fama e Shiller, Araújo argumenta que é preciso discernir o que exatamente está implicado no trabalho de cada um. No caso de Fama, ele continua, a questão da eficiência é, na verdade, a constatação de que o mercado processa de forma muitíssimo rápida as informações disponíveis

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"Quando há uma informação nova, ela é rapidamente processada, e, a partir daí, não há previsibilidade do preço dos ativos no curto prazo, que acabam tendo um 'passeio aleatório'", continua o economista. O passeio aleatório, como o próprio nome diz, é uma trajetória totalmente indeterminada, tanto para cima como para baixo.

Segundo Araújo, esta é uma ideia "muito útil" no curto prazo, e ajudou inclusive a mostrar que é meio inútil o esforço de gestores de fundos de ações hiperativos, que tentam "bater os índices".

O economista acrescenta que o modelo de Black & Scholes de precificação de opções (que deu o Nobel a Myron Scholes, Fischer Black já havia morrido) tem débitos com a ideia do passeio aleatório. "São teorias úteis, mas estas fórmulas falham quando há um evento abrupto de ruptura de bolhas", ele acrescenta.

Já Shiller, ligado à finança comportamental, mostrou que bolhas podem ser formadas a partir do comportamento de agentes excessivamente otimistas. Araújo explica que, nestas situações, o agente racional não consegue "arbitrar" o desvio do equilíbrio de mercado que percebe, porque há limites para as vendas a descoberto. "O investidor que não se deixou levar não tem aquele ativo, e esbarra, portanto, nos limites às vendas a descoberto - assim, os preços continuam a subir, para além dos fundamentos". Mas Araújo acrescenta que Shiller também diz que os preços tendem a voltar aos fundamentos, ainda que haja bolhas no meio do caminho. (Fernando Dantas)

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

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Esta coluna foi postada originalmente na AE-News/Broadcast

Opinião por Fernando Dantas
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