A grande maioria dos analistas prevê que a Selic, a taxa básica de juros, depois de mais um corte para 6,25% em maio, volte a subir em 2019. A discussão mais convencional é sobre se a primeira alta será no primeiro ou segundo trimestre, mas há quem pense que a dupla surpresa este ano de inflação baixa e atividade lenta possa postergar o movimento para o segundo semestre.
De maneira geral, a projeção é de que a Selic chegará a algo em torno da faixa de 8% a 8,5% no final de 2019. No Focus, a previsão mediana é precisamente de 8%.
Alexandre Ázara, economista-chefe da Mauá Capital, prevê uma primeira alta de 0,25 ponto porcentual (pp) da Selic em abril de 2019, seguida de mais três elevações de 0,5 pp, levando a taxa básica para 8% no final de 2019.
"O Banco Central tem deixado claro o tempo todo que está numa fase estimulativa da política monetária, que não pode durar para sempre - a Selic caiu mais do que se imaginava e não tem nenhum problema em que ela suba depois", diz Ázara.
Para a maioria no mercado, o juro real neutro estaria numa faixa de 4% a 5%, talvez mais para o limite inferior do que o superior. Assim, supondo-se que, ao fim de 2019, a política monetária já tenha retornado para uma instância neutra e a inflação esteja em 4%, quase de volta à meta de 4,25% (no ano que vem), tem-se uma conta simples: 4% de inflação mais 4% de juro real levam a uma Selic de 8%.
Flávio Serrano, economista-sênior do banco Haitong, raciocina em linhas parecidas. Ele projeta uma primeira alta de 0,25% da Selic no primeiro trimestre, e a taxa básica no final do ano entre 8% e 8,5%.
"A discussão mais comum agora é se sobe no primeiro ou no segundo trimestre - a visão majoritária é de que de fato vai se elevar no primeiro semestre", diz Serrano.
Nesse sentido, Alexandre Bassoli, economista-chefe do Opportunity Asset Management, está na ponta que aposta num período de política monetária estimulativa mais longo. Ele prevê uma primeira alta da Selic em setembro, e a taxa básica em 7,75% no fim de 2019.
Bassoli ressalva que todo o seu raciocínio se baseia na hipótese de não ocorrência de eventos mais extremos em termos eleitorais que pudessem provocar uma disparada do risco Brasil e do dólar.
Excluindo essa possibilidade, ele diz que efetivamente se surpreendeu tanto com a atividade mais lenta como com a inflação mais baixa desde o início do ano.
Bassoli observa que, na medida ponta a ponta, o PIB cresceu 2,2% nos quatro trimestres de retomada a partir dessa última recessão (que correspondem a 2017), comparado com, respectivamente, 4,2%, 6,2% e 9,1% quando se faz o mesmo cálculo nas recuperações iniciadas em 1999, 2003 e 2019.
"De fato a economia está respondendo muito lentamente aos estímulos monetários", conclui o economista. (Fernando.dantas@estadão.com)
Fernando Dantas é colunista do Broadcast
Esta coluna foi publicada em 27/4/18, sexta-feira.