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Economia e políticas públicas

Opinião|Reforma da Previdência não é suicídio eleitoral

Estudo de Pedro Fernando Nery, consultor legislativo do Senado, mostra que votos a favor da reforma da Previdência de 1998 não afetaram chances de reeleição dos deputados.

Foto do author Fernando Dantas
Atualização:

A novela da reforma da Previdência vai chegando próximo de seu final, pelo menos de acordo com analistas políticos que veem a primeira semana de dezembro como data limite para que o governo coloque a emenda constitucional em votação da Câmara.

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Como se sabe, a perda do timing em maio, com o escândalo das fitas de Joesley Batista, torpedeou o plano de voo da equipe econômica, e agora o que resta são chances reduzidas de aprovação, no apagar das luzes da vida útil legislativa, de uma versão superdesidratada da proposta original.

E mesmo isso já seria um cenário otimista. Hoje, a consultoria Eurasia, em seu artigo no Broadcast, considerou que há "viés de baixa" nas chances de aprovação da reforma da Previdência, atribuindo a esta hipótese uma probabilidade de 40%.

Um dos principais argumentos do ceticismo em relação à aprovação da reforma - e uma das principais justificativas dos parlamentares para se posicionarem contra - é a proximidade cada vez maior das eleições para o Congresso em 2018. Afinal, é suicídio eleitoral votar a favor da reforma da Previdência perto de eleições, certo?

Errado, segundo recente estudo do economista Pedro Fernando Nery, consultor legislativo do Senado, cujo título é "Se Votar, Volta? Voto a favor da reforma da Previdência e eleição de deputados em 1998".

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Ele investigou a reforma da Previdência de Fernando Henrique Cardoso em 1998, mais próxima da eleição do que a atual reforma, caso esta efetivamente seja posta para votar na Câmara até a próxima semana. Como mostra o texto de Nery, a apreciação pela Câmara em primeiro turno do Substitutivo do Senado à PEC de FHC se deu em fevereiro de 1998.

A primeira constatação de Nery é de que a proporção de deputados que votaram a favor da PEC da Previdência em 1998 que se reelegeu foi de 69%, sendo bem maior do que a proporção de deputados que votaram contra e se reelegeram, que ficou em 50%.

Mais ainda, ainda no âmbito da reforma de 1998, na histórica votação em que o governo foi derrotado por um voto na imposição de idade mínima para a aposentadoria por tempo de contribuição no RGPS, o mesmo padrão anteriormente mencionado se repetiu: 72% dos deputados que votaram a favor da idade mínima conseguiram se reeleger, contra apenas 50% dos deputados que votaram contra e se reelegeram.

Nery nota no seu estudo, entretanto, que os dados acima não estabelecem causalidade. Para chegar a isso, ele estimou um modelo econométrico (com a mesma metodologia utilizada em estudo de Carlos Pereira e Lúcio Rennó de 2007) para, segundo o texto, "investigar como voto pró-reforma da Previdência afetou a probabilidade de eleição de deputados em 1998".

O exercício econométrico utiliza uma série de variáveis explicativas (da reeleição ou não do deputado), como percentual de votos na eleição anterior, pertencimento a um partido da coligação vencedora da eleição para presidente (ou o mesmo para governador), mudança de partido durante o mandato, gastos de campanha, se já foi candidato a senador ou presidente, percentual de votos do partido do deputado, região geográfica que representa e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado.

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Devido a problemas de acesso aos dados, duas variáveis importantes do estudo de Pereira e Rennó ficaram de foram do exercício de Nery: ocupação de cargos de direção de colegiados durante o mandato e execução de emendas parlamentares. O autor explica que, do ponto de vista do seu papel como variáveis de controle, aquelas duas omissões são de certa forma supridas por outras variáveis do exercício.

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Nery fez dois exercícios, relativos à votação em primeiro turno da PEC de 1998 e à votação em destaque da idade mínima, mencionada anteriormente. A conclusão do trabalho é de que "não há evidências de que o voto a favor da reforma da Previdência tenha afetado positiva ou negativamente o desempenho eleitoral dos deputados", tanto em relação à PEC quanto à idade mínima.

Na verdade, surge até uma correlação positiva e significativa entre votar pela reforma e ser reeleito quando se exclui a variável referente a financiamento de campanha, mas que se torna estatisticamente irrelevante quando esta é incluída.

Segundo Nery, uma possível explicação é que o apoio ao governo pode estar relacionado à capacidade de arrecadar mais recursos para a campanha.

O principal, entretanto, como escreve o autor, é que não há evidência de que votar pela reforma da Previdência perto das eleições seja uma "sentença de morte". (fernando.dantas@estadao.com)

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Fernando Dantas é colunista do Broadcast

Esta coluna foi publicada em 27/11/17, segunda-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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