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Economia e políticas públicas

Opinião|Regulagem de ambição

Temer sobrevive à segunda votação sobre julgamento pelo Supremo, mas perde cacife político e tempo hábil para reformas. A hora agora é de reajustar a agenda econômica para objetivos críveis e que pavimentem o caminho para uma transição tranquila em 2019.

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Atualização:

Com a sobrevivência de Michel Temer à segunda votação no Congresso para que fosse julgado pelo Supremo, o curto mandato do presidente entra provavelmente em sua fase derradeira, na qual a percepção geral é a de que o presidente já não tem força política para promover reformas na Constituição. Assim, a expectativa de uma reforma da Previdência antes de 2019 praticamente morreu.

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No mercado financeiro os preços atuais refletem a expectativa de certa continuidade, até o final de 2018, das principais características do cenário interno e externo - incluindo a possibilidade de um aperto relativo neste último, mas excluindo eventos traumáticos ou de ruptura -, sem reforma da Previdência.

"Não há nada no preço de Previdência, nem mesmo uma reforma enxuta - ninguém acha que isso pode ser votado em um mês e meio, com feriados no meio", diz Solange Srour, economista-chefe da gestora ARX.

Assim, se vier alguma coisa, é lucro. Alexandre Póvoa, sócio-fundador da gestora Canepa, vai por linha semelhante. A possibilidade de qualquer avanço na agenda da Previdência ainda no governo Temer, que saiu do mapa do mercado, poderia ser o próximo catalisador de melhoras no mercado, levando a bolsa a sair do impasse que a mantém limitada a um teto em torno dos 76 mil pontos, e os juros das NTBs de mais longo prazo a romper o piso que os mantêm em torno de 5%.

Solange acrescenta, como outros eventos que poderiam animar o mercado, o detalhamento (com publicação de uma ou duas MPs) da privatização da Eletrobrás, embora também haja ceticismo em relação a haver tempo para a sua realização; algum item positivo da agenda fiscal que o governo eventualmente "tire da cartola", como o fim do abono salarial; e o desfecho da nomeação do novo chair do Federal Reserve (Fed, BC americano).

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O reapontamento de Janet Yellen, percebida como âncora da atual política monetária relativamente "dovish", seria positivo para o Brasil e demais emergentes sensíveis à liquidez internacional. Já a possibilidade de nomeação do economista John Taylor, da Universidade de Stanford, visto como mais "hawkish", poderia ter o efeito contrário, como nota Póvoa. Ele acrescenta, entretanto, que "uma coisa é defender posições mais duras fora do Fed, e outra e implementá-las lá dentro".

Na verdade, já refletindo a possibilidade de mudança no comando do Fed, além de outros fatores, a rentabilidade dos títulos do Tesouro americano de dez anos já saiu de níveis inferiores a 2,1% no início de setembro para o patamar atual superior a 2,4%. Concomitantemente, e não por coincidência, o dólar subiu de R$ 3,1 para pouco menos de R$ 3,3 no mesmo período.

Voltando à seara doméstica, há ainda o leilão de pré-sal hoje, cujo resultado pode ser um termômetro do apetite externo.

O governo Temer e a equipe econômica têm à frente, portanto, uma "mão" mais fraca para jogar até o fim do atual mandato, mas da qual terão que tirar o máximo proveito. A aproximação com o deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ), presidente da Câmara, para a montagem de uma agenda legislativa mínima realista, que continue a empurrar o País - ainda que de forma mais fraca e incompleta - na direção reformista parece ser o melhor caminho.

Por outro lado, prosseguir mecanicamente defendendo uma agenda que se tornou impossível, como uma ampla e profunda reforma da Previdência, não deve ajudar. O momento é de juntar os cacos, redimensionar a ambição e propor avanços menores, mas relevantes, que o governo consiga efetivamente entregar. (fernando.dantas@estadao.com)

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Fernando Dantas é colunista do Broadcast

 

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 27/10/17, sexta-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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