Fernando Dantas
25 de fevereiro de 2022 | 11h06
Apesar de vir no piso das estimativas do mercado, a taxa de desemprego do último trimestre, de 11,1%, da PNADC, não animou os analistas do mercado de trabalho brasileiro.
A renda média do trabalho, de 2.447, foi a menor da série histórica iniciada em 2012, tendo caído 3,6% frente ao trimestre anterior (julho-agosto-setembro) e 10,7% ante o último trimestre de 2020.
Como explica o economista Bruno Imaizumi, da consultoria LCA, essa queda da renda salarial está associada ao aumento da informalidade, que atingiu o recorde de 43,7 milhões de trabalhadores (na série dessazonalizada) no último trimestre de 2021. O recorde anterior, pré-pandemia, segundo o economista, era de 43,1 milhões.
Na visão de Imaizumi, a alta da inflação não só corrói os rendimentos como, pela elevação de preços básicos das famílias como alimentos e energia elétrica em 2020 e 2021, força muitas pessoas a se reinserirem na população ocupada (PO) recebendo menos do que estavam acostumadas, dado o seu grau de qualificação.
Esse movimento se acentuou em 2021, frente a 2020, pelo fato de que, no quadrimestre inicial do ano passado, não houve programa de transferência associado à pandemia e, quando o auxílio emergencial voltou, foi em valores bem inferiores aos de 2020.
A taxa média de desemprego de 2021 foi de 13,2%, um recuo relativamente pequeno ante os 13,8% de 2020, o ano de maior impacto econômico da pandemia.
Como se sabe, tanto em 2020 quanto em 2021, o desemprego só não chegou a níveis bem mais elevados por causa do contingente que saiu da força de trabalho – isto é, sem emprego, deixou de procurar ocupação, por cautela sanitária ou simplesmente porque o tipo de trabalho exercido desapareceu no auge do isolamento social.
Imaizumi observa que a taxa de atividade, que é a força de trabalho (ocupados mais os que procuram emprego) dividida pela população em idade ativa estava em dezembro de 2021 em 62%, quase 1 ponto porcentual (pp) abaixo do nível de 62,9% de fevereiro de 2020, no imediato pré-pandemia. Esse 1pp que potencialmente pode voltar à força de trabalho representa um limite para a queda da taxa de desemprego.
O outro fator é a própria economia que deve andar de lado este ano, com projeção mediana do mercado de crescimento de apenas 0,3% (a da LCA é de 0,7%). Imaizumi projeta um desemprego médio de 11,6% em 2022, com uma taxa de desocupação no último trimestre deste ano de 11%, muito próxima, como se vê, dos 11% do mesmo período do ano passado.
Um crescimento mais lento da PO e uma leva ainda por voltar à força de trabalho são os ingredientes para que o mercado de trabalho avance devagar.
O economista Daniel Duque, do Ibre-FGV, que tem análise parecida, resume o quadro à frente, corroborado pela PNDAC de dezembro. A recuperação da PO ainda é forte, mas deve desacelerar, e a renda média continua em queda, por causa da inflação e do aumento da informalidade. Fora mudanças surpreendentes, o mercado de trabalho não deve entusiasmar muito durante este decisivo ano eleitoral.
Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)
Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 24/2/2022, quinta-feira.