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Economia e políticas públicas

Opinião|Sinais em todas as direções

Surpresa positiva na Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de dezembro (repetindo o ocorrido em relação a novembro) compõe um mosaico de indicadores que apontam em diferentes direções.

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Atualização:

A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de dezembro foi uma boa surpresa, assim com a PMS de novembro. Como noticiado por Vinicius Neder, da Agência Estado, o volume de serviços prestados em dezembro teve alta de 1,4% em dezembro, ante novembro, com ajuste sazonal. O resultado ficou bem acima da mediana de estimativas do Projeções Broadcast, de +0,7%.

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Em relação a dezembro de 2020, a alta foi de 10,4%, também acima da mediana, de 9,4%. No ano passado, a alta dos serviços foi de 10,9% (projeção mediana de 10,7%).

Como explica Lucas Rocca, economista da consultoria LCA, o desempenho dos serviços em novembro e dezembro de certa forma neutralizou a percepção ruim criada pelo resultado do bimestre anterior.

"Duas quedas seguidas em setembro e outubro acenderam um alerta de que possivelmente a retomada dos serviços estava em risco, mas novembro e dezembro mostraram o contrário, ela continua firme", diz o economista.

Ele nota que, no último bimestre do ano, destacaram-se segmentos como os serviços prestados às famílias e o transporte aéreo, em ambos os casos denotando uma normalização em relação aos tempos da pandemia, seja da mobilidade urbana, seja da retomada das viagens de fim de ano.

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Rocca ressalva que a recuperação dos serviços permanece bastante heterogênea. Em relação a 2020, há alta em quase todos os segmentos, mas a comparação com 2019, período pré-pandemia, é mais instrutiva.

Apesar dos avanços, os serviços prestados às famílias ainda estão 24% abaixo do nível de 2019, e os serviços às empresas quase 5% abaixo. Por outro lado, 'serviços de informação e comunicação', 'transportes' e 'outros serviços' estão, respectivamente, 7,7%, 6,3% e 12,1% acima.

Em termos de 2022, apesar da ômicron, a perspectiva de retorno da mobilidade social pode dar gás para os serviços prestados às famílias (que, mesmo assim, devem terminar 2022 ainda abaixo do pré-pandemia, na projeção da LCA).

Por outro lado, os serviços mais ligados à atividade econômica, como os prestados às empresas e transportes, devem ter, segundo o economista, um ano fraco, inclusive com possibilidade de queda. A razão, claro, é a perspectiva de que quase não haja crescimento do PIB em 2022.

A projeção da LCA de crescimento da economia este ano, de 0,7%, está acima da mediana do mercado na pesquisa Focus do BC, de 0,3%. Segundo Rocca, os bons resultados dos serviços em novembro e dezembro dão um pouco mais de segurança em relação à projeção do PIB em 2022 da LCA.

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Fernando Rocha, economista-chefe e sócio da gestora JGP, no Rio, nota que o resultado dos serviços em dezembro (conjuntamente com novembro) faz parte de um mosaico de indicadores recentes difícil de interpretar - já que é uma mistura de sinais favoráveis e desfavoráveis.

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Assim, além dos serviços no último bimestre, há o varejo, que veio forte em novembro mas pouco brilhante em novembro, e uma produção industrial muito boa em dezembro junto com a divulgação pela Anfavea de uma queda de 27,4% da produção automobilística em janeiro, em relação ao mesmo mês de 2021.

"Está difícil ler no momento, é número para todas as direções", comenta Rocha.

Por um lado, ele nota, os meses de novembro e dezembro melhores que o esperado acenam com um carregamento estatístico melhor para os números deste primeiro trimestre. A sua projeção de PIB para o quarto trimestre, que já chegou a ser de -0,5%, está agora em -0,2%.

Mas o resultado da Anfavea, pela importância da cadeia automobilística na indústria, sugere que aquela centelha do final de 2021 pode se apagar agora no primeiro trimestre. Deixando tudo como parecia estar antes.

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Os problema da indústria, para o economista, permanecem fundamentalmente ligados à oferta (os famosos gargalos que surgiram com a pandemia), e não à demanda. E a perspectiva quanto à solução desses problemas não melhorou recentemente, ao contrário.

"Antes se falava que tudo ia estar normalizado [gargalos de oferta] no segundo semestre deste ano, mas agora começa a se falar em 2023", comenta o economista.

No cômputo geral, Rocha coloca como fatores de otimismo o aumento de transferências no ano eleitoral, o forte aumento do salário mínimo, a possível correção de salários pela elevada inflação passada, a boa safra e o bom momento em termos gerais para commodities agropecuárias e minerais e, finalmente, um "pipeline" expressivo de projetos de construção civil contratados na época recente de juros muito baixos.

Mas todos esses fatores positivos colidem com duas poderosas restrições ao desempenho da economia: a continuidade dos problemas de oferta e a alta dos juros, cujos efeitos sobre a economia real ainda vão se acentuar.

No frigir dos ovos, a projeção do economista para o PIB deste ano é de crescimento de 0,5%.

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Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 10/2/2022, quinta-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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