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Economia e políticas públicas

Opinião|"Suavização direcionada" na China

Segundo Livio Ribeiro, da consultoria BRCG e do Ibre-FGV, governo chinês não voltará aos megapacotes de estímulo do passado diante da atual desaceleração, mas tampouco ficará de mãos amarradas.

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Atualização:

A desaceleração chinesa desta vez não deve fazer com que o governo do país lance mão de gigantescos pacotes de estímulo na contramão da perseguida transição de modelo - de investimento e exportação como motores do crescimento para serviços e consumo doméstico -, como ocorrido na crise global de 2008/09 e em outros episódios anteriores.

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Ainda assim, já há sinais de que as autoridades chinesas tampouco vão ficar de braços totalmente cruzados diante da economia mais fraca, e devem fazer um ajuste fino, uma "suavização direcionada", nas palavras de Livio Ribeiro, sócio da consultoria BRCG e pesquisador associado do Ibre-FGV.

O economista, especialista em economia chinesa, aponta três pronunciamentos recentes que apontam nessa direção.

No início de novembro, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, disse que a desaceleração do crescimento do país justificava "passos preventivos" e uma "sintonia fina" de políticas econômicas.

Mais recentemente, o PBOC, banco central da China, eliminou no seu último relatório de política monetária uma série de expressões, presentes nos documentos anteriores, que sinalizavam uma postura restritiva e prudente em relação a estímulos da política monetária.

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Poucos dias depois, constou de comunicado do Conselho de Estado da China um direcionamento para que as agência regulatórias e o PBOC se preocupem com a provisão de liquidez para setores específicos da economia, com destaque para as pequenas empresas com dificuldades para lidar com choques muito duros.

Ribeiro menciona ainda outras medidas, como o governo central determinar que governos locais e bancos intervenham em alguma medida no mercado imobiliário, mantendo linhas de crédito para incorporadoras elegíveis a receber empréstimos e para pessoas que queiram comprar imóveis.

Isso não significa, entretanto, que o governo chinês entrará para salvar a parte quebrada do mercado imobiliário, que sofreu um choque de grandes proporções e reduziu significativamente sua fatia na atividade econômica.

O foco principal da sintonia fina são as pequenas empresas, que sofrem com os choques de custo e o enfraquecimento da demanda. Também há um elemento de assistência às famílias chinesas que, ao contrário do ocorrido no Brasil e nos principais países ocidentais, tiveram que se virar quase sozinhas com as perdas econômicas da pandemia.

Segundo o economista da BRCG, parece cada vez mais claro que o PBOC "começou a construir uma narrativa para um novo corte de compulsório entre o final deste ano e o início do próximo".

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(a medida foi anunciada nesta segunda-feira, 6/12, depois, portanto, da publicação do artigo na sexta, 3/12).

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O analista nota que, como tipicamente ocorre com medidas de política econômica na China, "nada é feito de uma hora para a outra, há toda uma etapa preparatória na comunicação". A retórica recente, na sua interpretação, lembra muito a mudança de comunicação em maio, que acabou desaguando num corte de 0,5 ponto porcentual nos depósitos compulsórios em julho.

Ribeiro repisa que não se trata de interromper o ajuste estrutural da China, com o qual o governo tem mantido um compromisso bastante firme. Assim, a agenda regulatória que vem disciplinando o sistema financeiro e o mercado imobiliário não será engavetada.

"O que está em jogo é apenas uma suavização voltada para os segmentos que estão sofrendo mais", reforça o economista.

Ele projeta um cenário de manutenção de crescimento bem moderado na China no quarto trimestre, com algum resquício do choque imobiliário sobrando para o início de 2022. Suas previsões são de crescimento do PIB chinês de 7,8% em 2021 e 4,7% em 2022.

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Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 3/12/2021

Opinião por Fernando Dantas
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