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Economia e políticas públicas

Opinião|Tudo pronto para a Selic cair

Técnicos do governo indeferem pedido de aumento dos jogos lotéricos (a Caixa deve insistir) e demanda continua a emitir sinais de debilidade. Nesta quarta, 31/8, BC deve decidir corte da Selic, e mercado se divide entre 0,25 e 0,5 ponto porcentual.

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Atualização:

Fontes do governo confirmaram informação divulgada pelo site Games Magazine, de que o Ministério da Economia indeferiu o pedido de reajustes nos preços das loterias que havia sido solicitado pela Caixa, que deve insistir no pedido ou sugerir medidas compensatórias.

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Uma das principais razões para o indeferimento é que, por meio de um estudo econométrico, os técnicos do Ministério avaliaram que haveria queda da receita das lotéricas com o aumento do preço.

A notícia é mais um sinal baixista para a inflação, neste primeiro dia da reunião de julho do Copom, que termina amanhã, quando será anunciada a decisão sobre a Selic, hoje em 6,5%. As apostas são de corte de 0,5 ou 0,25 ponto porcentual (pp).

O economista André Braz, especialista em inflação do Ibre/FGV, calculou que o reajuste do preço dos jogos lotéricos (por volta de 30%, na média) teria um impacto de 0,13 pp na inflação de 2019. Sem o aumento, a sua projeção é de IPCA de 3,7% este ano.

Já Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista-chefe da Ativa Investimentos, estimou impacto do ajuste das lotéricas (com média de 32%) em 0,15 pp, e projeta IPCA de 3,45% este ano (bem abaixo da meta de 4,25%), se o Ministério da Economia mantiver a decisão de não autorizar o reajuste.

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Thadeu avaliava que seria difícil o Ministério da Economia autorizar o aumento das lotéricas pela questão da potencial redução de receita e também porque seria melhor esperar o próximo ano, quando a nova Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE, que deve ser divulgada em outubro, pode inclusive redefinir o peso dos jogos lotéricos na cesta de consumo.

Ele acrescenta que 1% de corte adicional da Selic corresponde a uma economia anual em juros da dívida pública de cerca de R$ 40 bilhões, e que as autoridades econômicas provavelmente preferem deixar o mais desimpedido possível o caminho para o ciclo de baixa da taxa básica que se avizinha.

Um argumento contrário seria o de que um ano em que o IPCA se encaminha para ficar bem abaixo da meta, como 2019, acomodaria melhor um aumento como o dos jogos lotéricos - mas o economista considera o caso para não reajustar mais forte.

Agora, para ele, o risco para o seu prognóstico de IPCA de 3,45% vem da alta do barril de petróleo, que não está sendo compensada por valorização do real. Mas como, na sua visão, a Petrobras pode estar mirando market-share em mercados de combustíveis e sendo mais contida em reajustes de preços, há algum espaço para absorver aumentos do barril.

Pelo lado dos fatores mais constitutivos do processo inflacionário, ligados à demanda, o consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, argumenta hoje em relatório que há razões para acreditar que o "orçamento" total de cortes da Selic neste novo ciclo deve ser maior do que a previsão de queda de 1 ponto porcentual (para 5,5%) derivada das projeções do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de junho.

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Ele nota que as projeções do BC serão atualizadas e provavelmente indicarão um cenário inflacionário ainda mais benigno. Adicionalmente, a ociosidade na economia pode até ser elevado um pouco no primeiro semestre (apesar da queda do desemprego), o que está ligado tanto ao investimento quanto à desaceleração internacional.

Para Schwartsman, se o Copom estiver convencido de que o "orçamento" será superior a 1 ponto porcentual de corte da Selic, com o ciclo de cortes prosseguindo em 2020, provavelmente optará por uma redução de 0,5 pp amanhã. Se ainda tiver dúvidas, será mais cuidadoso (provavelmente optará por 0,25 pp).

De qualquer forma, fatores de oferta e demanda parecem se combinar numa conjunção propícia para um afrouxamento mais contundente da política monetária.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 30/7/19, terça-feira.

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Opinião por Fernando Dantas
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