Sofisticação dos negócios

Novos processos sofisticam negócios na indústria da moda brasileira

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Por Fabio Farias
Atualização:

Laís Alegretti

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Ao falar em inovação, a primeira coisa que se pensa é na entrega de um produto high-tech, resultado de pesquisas científicas para desenvolver o produto. Mas no setor têxtil e de confecção, os métodos para vender e distribuir os itens também exigem diferenciação. O serviço prestado ao cliente, por exemplo, é mais uma oportunidade para inovar nos negócios da moda.

A grife carioca Farm, conhecida pelas estampas exclusivas, lançou uma loja virtual no ano passado e se surpreendeu com o resultado. Pela internet, as vendas chegam a R$1,5 milhão por mês - três vezes mais do que na maior loja física da empresa, localizada em Ipanema, no Rio. "Foi muito rápido. A ideia era alcançar em cinco anos a quantidade de vendas das principais lojas da rede", comemora o gerente de marketing da marca, André Carvalhal.

Ele admite que a empresa nem sequer estava preparada para a demanda que surgiu na internet: "Em lançamento de coleção, o site saiu do ar muitas vezes por conta da grande quantidade de acessos." Por isso, a marca investiu R$ 1,5 milhão em outra plataforma de vendas online, que será lançada no segundo semestre deste ano e funcionará também na rede social Facebook.

"É melhor investir nessa mudança de plataforma do que na abertura de um ponto de venda físico. Com o custo para abrir uma loja nova [R$ 1 milhão], eu consigo melhorar o e-commerce, atender mais clientes e ter uma resposta muito maior", afirma Carvalhal. O valor médio das compras pela loja online, que entrega para todo o Brasil, também é maior do que nos pontos de venda: R$ 322 frente a R$ 280. A internet permitiu à empresa, que tem lojas em 15 Estados e no Distrito Federal, conquistar novos consumidores. "Alcançamos um público ao qual não tínhamos acesso", diz Carvalhal.

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A economista do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Ana Cristina Costa explica que a conquista de consumidores acontece a partir de inovação. "A empresa descobre um nicho no mercado, composto por pessoas que eram mal atendidas, e cria estratégias para chegar ao novo grupo." Segundo Ana Cristina, que é chefe do Departamento de Bens de Consumo, Comércio e Serviços da Área Industrial do BNDES, não é preciso uma descoberta científica para inovar. "É possível inovar tanto nos produtos quanto no processo de distribuí-lo e entregá-lo ao cliente. O essencial é que crie competitividade para a empresa. Se não tem sucesso no mercado, não é inovação, é apenas invenção."

Segundo o Instituto de Estudos e Marketing Industrial, a cadeia têxtil brasileira investiu US$ 1,750 bilhão no ano passado em modernização e ampliação da capacidade produtiva, o que inclui a compra de máquinas nacionais e importadas. Em 2010, o montante foi de US$ 1,446 bilhão.

Para o gerente de infraestrutura e capacitação tecnológica da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Sylvio Napoli, a principal dificuldade para investir em inovação não é financeira. "O mais importante é a conscientização das empresas para entender que é uma forma de sobrevivência. Aí, em vez de pensar em inovação como custo, pensarão como investimento."

As grifes, em geral, são as responsáveis por lançar as novidades da área. "As semanas de moda são como a Fórmula 1", diz Graça Cabral, diretora de parcerias estratégicas da Luminosidade, que organiza a São Paulo Fashion Week. "Se na Fórmula 1 é o motor diferenciado que é testado, nas passarelas é uma nova proposta de tecido ou de formato."

A marca brasileira Osklen prova que há consumidores dispostos a pagar mais por produtos sofisticados. A empresa, que investe 0,5% do seu lucro em pesquisa de material sustentável, vende um tênis fabricado com couro de salmão por R$ 897 - mais que o dobro do mesmo modelo em couro bovino, que custa R$ 397. A captura do peixe, segundo a empresa, é feita de forma não-predatória e com respeito aos períodos de procriação da espécie. Além disso, são usados corantes não poluentes.

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Para o diretor de estilo e criação da marca, Oskar Metsavaht, a dificuldade de produzir de maneira sustentável em larga escala é o que encarece o produto final. Apesar disso, cerca de 40% dos produtos das lojas estão nessa categoria. "Temos um público significativo que reconhece o valor agregado e tem possibilidade de pagar mais."

 Foto: Estadão

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Estampas

"A estamparia digital é a inovação que mais deu certo nos últimos anos", aponta o gerente de infraestrutura e capacitação tecnológica da Abit, Sylvio Napoli. A técnica permite que mais cores e detalhes sejam usados na impressão têxtil.

A empresa brasileira La Estampa, que cria tecidos e estampas para cerca de 1.400 marcas - entre elas, Farm, Animale, Le Lis Blanc e Dress To -, investiu 2,6 milhões de euros em uma máquina de estamparia digital. "Um fornecedor italiano veio com o sonho escrito em um guardanapo para mim, e nós resolvemos investir nessa máquina há três anos", conta Marcelo Castelão, presidente da empresa.

A máquina, que fica na fábrica da La Estampa em Barcelona, na Espanha, começou a produzir em agosto deste ano. Até o fim de 2012, em cinco meses de operação da máquina, Castelão prevê crescimento de 43% no faturamento da empresa em relação ao ano passado. Para 2013, ele aposta em faturamento entre R$ 190 milhões e R$ 200 milhões, prevendo um aumento entre 50% e 60% em relação à previsão para este ano.

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A empresa, que começou a trabalhar com estamparia digital em 2008, não abandonou o processo tradicional, que é adequado para produções mais simples e em larga escala, porque ainda é mais barato. A vantagem da estamparia digital, que não precisa de uma "forma" para imprimir o desenho no tecido, é a possibilidade de produzir pequenas amostras. "Para os clientes que gostam de diversificar muito, a digital permite comprar dez desenhos de mil metros em vez de dez mil metros de um único desenho", explica Castelão.

O preço do metro de um tecido com estampa digital é entre R$ 5 e R$ 6 mais caro do que o do tecido com estamparia convencional na La Estampa. Castelão aposta que o preço tende a diminuir, conforme cresça a demanda por essa tecnologia no mercado brasileiro. "É como a câmera fotográfica digital. Se foi um privilégio de poucos, uma hora todo mundo tem acesso."

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