Desafio para caminhoneiros

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Por Fabio Farias
Atualização:

Tecnologia de ponta sobre rodas desafia caminhoneiros

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Caminhões com novos itens de navegação exigem melhor preparo do motorista

Heraldo Soares e Nathan Lopes

Piloto automático, mecanismo que evita erros na troca de marchas e até equipamento que verifica se o motorista está cansado. Por causa da tecnologia presente nos novos caminhões, o trabalho do caminhoneiro deixou de ser somente ligar o motor e guiar o veículo pelas estradas do País. Uma mudança tecnológica que vem provocando consequências no mercado de trabalho: as empresas do setor já estão com dificuldade de encontrar mão de obra qualificada.

"Se você coloca um anúncio no jornal buscando caminhoneiros, de cada cem que aparecem, você consegue contratar meio", resume Alysson Correa, gerente de Monitoramento da transportadora Transremoção. A necessidade de treinamento é tal que o Serviço Social do Transporte e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest-Senat) definiram uma meta: colocar 66 mil motoristas na sala de aula até outubro de 2013. Desde o início do curso, em outubro do ano passado, 1.200 profissionais passaram pelo treinamento, cerca de 2% do público esperado.

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Segundo a coordenadora de Estudos e Projetos do Sest-Senat, Renata Maia, o amplo uso da tecnologia nos caminhões é uma mudança definitiva, principalmente por causa da economia. Pela estimativa de Renata, um motorista com qualificação consegue reduzir em 10% o gasto com combustível e o desgaste de peças do caminhão. "O caminhoneiro precisa ter noção do que existe hoje no veículo." Isso incluir saber utilizar equipamentos como piloto automático, que identifica os veículos que trafegam à frente do veículo, e computadores de bordo.

Na montadora Volvo, que no ano passado vendeu 19 mil unidades no País, os veículos podem sair de fábrica com piloto automático e LKS (sigla para monitoramento de faixa de rodagem), um equipamento que filma a rua e verifica, pelo trajeto que o caminhoneiro fez, se ele pode estar cansado. Outra novidade é o ESP (controle eletrônico de estabilidade, na sigla em inglês), que garante a estabilidade nas curvas.

 

"A ideia é que o caminhão comece a ajudar o caminhoneiro", afirma Bernardo Fedalto, diretor de Caminhões da montadora. De acordo com ele, esses itens equivalem a 3% do valor total do veículo. Investimento que pode ajudar a salvar vidas e a reduzir eventuais danos ao veículo.

O desenvolvimento da mais recente linha de caminhões da montadora Man LatinAmerica, lançada em abril, exigiu investimentos de R$ 100 milhões. Nos veículos, a parte tecnológica se destaca. Há desde piloto automático e computador de bordo até um inibidor de erros na troca de marchas, quem melhoram a segurança do motorista.

Já os caminhões da Iveco receberam o sistema de telemetria, que apresenta consumo de combustível, dados do motor e até as condições da parte mecânica. Por uma entrada USB no painel do veículo, o motorista consegue extrair esses dados em formato de gráfico.

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"Os veículos interagem muito mais com o motorista, o que requer mais cuidado desse profissional", observa Marco Saltini, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). "Hoje, você entra num caminhão e ele parece um avião". Saltini também ressalta a necessidade de treinamentos para os profissionais.

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Mudanças para os caminhoneiros

Não são apenas as empresas que ganham com o uso desses equipamentos: o motorista que se preparou para utilizá-los tem retorno financeiro garantido. "A qualificação faz esses caminhoneiros ganharem, em média, de R$ 3 mil a R$ 3,5 mil", comenta Renata Maia, do Sest-Senat. Sem essa qualificação, o salário de um motorista gira em R$ 2 mil mensais.

"Antigamente, os caminhões não tinham comodidade alguma e isso se refletia no nosso dia a dia", lembra Adilson Paulino, caminhoneiro da Rodonaves, há 17 anos na estrada. Além dos itens de segurança, ele destaca a importância dos equipamentos de comunicação para o motorista. "Mesmo quando estamos em lugares onde o celular falha, temos comunicadores que nos mantêm em contato com a central de monitoramento."

"Hoje tem 'motorista-astronauta', como dizem", lembra Alarico Assumpção Jr., presidente executivo da Federação Nacional da Distribuição deVeículos Automotores (Fenabrave). "A evolução é muito grande nos caminhões, que eram movidos a diesel, por bombas injetoras. Agora, são caminhões eletrônicos, computadorizados."

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