Agora os juros caem, mas o suficiente?

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Por Redação
Atualização:

O texto abaixo é a íntegra do post escrito ontem e publicado no Último Segundo do IG minutos depois do anúncio do corte nos juros básicos pelo BC (ao clicar aqui você vê o texto como publicado ontem). O post não foi para o blog porque o sistema de publicação de blogs do IG estava instável bem na hora da decisão do BC (instabilidade que, me informam no IG, ainda continua). A solução foi publicar diretamente na área do US. Mariana Castro, minha jovem e atentíssima chefe, foi quem comandou a operação de "salvamento", com a garra e a competência  de sempre.

Com meus pedidos de desculpas pelo transtorno técnico, estou recolocando o texto no lugar próprio do blog, para que os leitores possam ter acesso a ele no espaço devido e para os eventuais comentários que queiram enviar.

 

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O Banco Central surpreendeu ao cortar em um ponto a taxa básica de juros e acompanhar a maioria dos analistas - não no que eles achavam que o BC faria, mas no que achavam que deveria fazer. Até o fim, o mercado esperava uma redução nos juros de "apenas" 0,75 ponto percentual - o que já seria uma ousadia e tanto para o perfil do BC brasileiro.

Pode parecer que depois da mão a gente quer o braço, mas o fato é que o corte deveria ter sido maior ainda. Talvez 2 pontos, como fez, recentemente, o Banco Central da Turquia, nosso competidor mais próximo no campeonato dos juros mais altos no mundo.

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Explico. Os últimos indicadores de atividade e de inflação mostraram números bem piores do que o mercado esperava. A segunda prévia de janeiro do IGP-M, divulgada hoje cedo pela Fundação Getúlio Vargas, mostrou deflação de 0,58%. O número levou a Tendências Consultoria (do ex-ministro Mailson da Nóbrega e do ex-presidente do BC Gustavo Loyola) a cortar de 6,3% para 3,8% a projeção de alta do índice em 2009, abaixo da meta de 4,5%..

Além disso, o emprego com carteira assinada despencou em dezembro e tudo indica que a carnificina continuou ao longo de janeiro. A produção industrial caiu fortemente em outubro e novembro, na esteira da paralisação das linhas de montagem das montadoras de veículos. Uma queda do PIB é certa no quarto trimestre do ano passado e praticamente inevitável nos primeiros três meses deste ano. Restam, de fato, poucas dúvidas de que vivemos um quadro de esfriamento continuado da atividade econômica (mentes burocráticas, no afã de repetir costumes bobocas de outras economias, chamam esse esfriamento de "recessão técnica", o que não serve para nada, além de dar passagem a manchetes de jornal).   Dizem alguns que, diferentemente do que ocorre no mundo desenvolvido, no Brasil, a margem para a adoção de políticas contracíclicas é estreita. A ver a validade da afirmação. Mas, de outro lado, não há dúvida de que a margem da política monetária, que, nas economias desenvolvidas, e sobretudo nos Estados Unidos, já queimou praticamente todos os seus cartuchos, é agora bem ampla no Brasil.

Pagamos um alto preço para, enfim, dispor dessa margem, cuja origem foram os erros na condução da política de juros, mas agora deveríamos aproveitar e acertar o passo mais rápido. Enfim, o corte de 1 ponto na taxa de juros já ajuda a reduzir a esquizofrenia econômica no governo - o BC segura enquanto a Fazenda solta. A sinalização, no fim das contas, é boa e só resta esperar que não tenha vindo muito tarde.

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