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Por Redação
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A cotação do dólar abriu a semana em alta, cotado acima de R$ 2,40.  Desde que a taxa de câmbio começou a escalar, em maio, o Banco Central já colocou US$ 35 bilhões em operações equivalentes a venda de moeda americana no mercado futuro, mas não conseguiu reverter a tendência de desvalorização do real. As desvalorizações, no ano, já se aproximam de 20%.

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Na semana passada, diante da pressão no mercado cambial, o BC abriu uma segunda comporta de defesa das cotações, liberando US$ 5 bilhões para a rolagem de posições em dólares, que deveriam ser liquidadas em setembro - a operação alivia a pressão de compra. O terceiro e último passo, nesse roteiro, seria a venda de dólares no mercado à vista, queimando diretamente reservas internacionais.

Nas muitas e acirradas batalhas cambiais que terá pela frente, o BC fará o impossível para evitar a abertura dessa última comporta. Seria a senha para uma sangueira cambial. Da última vez em que isso ocorreu, no segundo semestre de 1998, ainda na vigência do regime de câmbio fixo, as reservas brasileiras despencaram 75% em menos de seis meses. No início do ano seguinte, o governo foi obrigado a adotar às pressas o câmbio flutuante, o real sofreu uma desvalorização abrupta de quase 50% e os juros básicos escalaram a recordistas 45% ao ano.

Evitar projeções definitivas para a trajetória da taxa de câmbio é uma atitude de recomendável cautela. Como lembram os economistas mais experientes - e bem humorados -, o exercício de prever o futuro cambial foi inventado exatamente para lembrá-los da humildade corriqueiramente escassa. Assim, previsões, até aqui isoladas, de um dólar a R$ 2,70 ou R$ 2,80 no fim do ano ainda podem ser classificadas como chutometria imprudente.

Verdade que o déficit em transações correntes galopa para as alturas de US$ 80 bilhões em 2013, com a possibilidade de que se registre saldo negativo na balança comercial, algo inédito desde 2000. Também é verdade que o potencial da liquidez em dólares (total de ativos que podem ser convertidos rapidamente em moeda estrangeira) supera a soma das reservas internacionais. A dívida externa, contudo, mantém-se proporcionalmente baixa e os ingressos de investimentos estrangeiros diretos, ainda que com expansão em ritmo mais lento e sem cobrir como antes a sua totalidade, ainda devem compensar este ano três de cada quatro dólares do déficit externo corrente.

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Nas duas primeiras semanas de agosto, o real foi a moeda que mais se desvalorizou ante o dólar. Todos os mercados cambiais ao redor do mundo estão sofrendo os impactos das perspectivas de reversão dos afrouxamentos monetários nos Estados Unidos e da trajetória já ascendente dos juros no mercado americano, só que as perdas da moeda brasileira superaram em mais de duas vezes as de qualquer outra.

Ainda que a economia brasileira some mais fragilidades do que as congêneres, a grande distância entre as desvalorizações do real e as de outras moedas não parece se restringir aos fundamentos econômicos. É possível localizar alguns elementos especulativos no mercado, aguçados, inclusive, como observam alguns analistas, pelas divergências entre o Banco Central e o Ministério da Fazenda quanto às implicações das desvalorizações - para a inflação, no caso do BC, e para a competitividade da indústria, em sentido oposto, no caso da Fazenda.

Os problemas econômicos e as dissensões no governo contribuem, é claro, para dificultar a ação do BC na contenção das pressões sobre o real. Até mesmo a oferta de dólares futuros, notam especialistas, tem estimulado fundos, locais e externos, a especular com o real, tanto que as cotações vêm reagindo pouco aos leilões cambiais. Mas as chances de uma disparada sustentável no câmbio, por enquanto, ainda parecem limitadas - mesmo que à custa de altas mais fortes nos juros básicos até o fim do ano.

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