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Bolsa bate 100 mil pontos enquanto a economia mantém fraqueza

Por José Paulo Kupfer
Atualização:

Enquanto no pregão da Bolsa de Valores, nesta segunda-feira, comemora-se a ultrapassagem da marca histórica dos 100 mil pontos, a economia real, aquela que indica como anda o nível de atividade e o emprego, mostra sinais de preocupante fraqueza. O IBC-Br, índice de atividade, calculado mensalmente pelo Banco Central, recuou 0,41% em janeiro, em relação a dezembro e as projeções do Boletim Focus para o crescimento em 2019 desabaram de 2,5% há cinco semanas para 2,01% agora.

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A escalada das cotações no mercado acionário  tem mais a ver com as perspectivas de manutenção dos juros de referência pelo Federal Reserve, nesta quarta-feira -- e mesmo de cortes no futuro --, do que com perspectivas de retomada no curto prazo da economia doméstica. Também pesa favoravelmente, na Bolsa, a expectativa de que o Banco Central brasileiro, na primeira decisão da taxa Selic pela nova diretoria, na mesma quarta-feira, mantenha os juros básicos mais uma vez inalterados.

O que mais surpreendeu na derrubada das projeções para o crescimento da economia em 2019, registrada no Boletim Focus desta semana, não foi a nova taxa esperada. Desde a verificação da perda de fôlego nos últimos meses de 2018, já era possível imaginar que a economia, no início do ano seguinte, continuasse em passo arrastado. O que chama a atenção é a amplitude e a rapidez do movimento de corte nas estimativas. Por suas próprias características, não é comum uma variação tão intensa e rápida nas projeções medianas do Focus.

É possível que o ritmo de revisão da taxa prevista de expansão econômica para 2019 passe, a partir de agora, por um período de calmaria, mas ainda não se pode concluir que a tendência seja de uma estabilidade duradoura nesse novo patamar de 2%. No final do ano, as chances de que se confirme uma nova frustração do crescimento, com a economia avançando mais para as vizinhanças de 1,5% ou até menos, não podem ser descartadas.

O IBC-Br de janeiro ajuda a entender a possível manutenção de um quadro de baixo crescimento também em 2019. O índice do BC, ajustado, recuou bem mais do que as estimativas de mercado no primeiro mês do ano, com destaque bastante negativo para a indústria. Embora a participação da indústria na economia esteja em descenso, o que ocorre no setor industrial produz um efeito de contágio sobretudo em algumas atividades do setor de serviços.

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É preciso considerar que a situação da indústria tende a puxar o indicador para baixo e parte não desprezível desse efeito virá da contração, forte e inesperada, da atividade extrativa, com paralisações e retração da atividade na Vale e outras mineradoras, depois da tragédia de Brumadinho. Com a Argentina aprofundando a recessão e a economia global perdendo fôlego, pouco se pode esperar da indústria como mola da expansão econômica neste ano.

Também não se pode esperar muito dos investimentos, pelo menos neste primeiro trimestre. O item sofreu uma freada forte no fim do ano passado, legando herança negativa importante para os primeiros meses deste ano, especialmente quando se exclui a importação meramente contábil de plataformas de petróleo. Além disso, depois dos dados do comércio em janeiro, que foram positivos, mas não o suficiente para apontar uma virada, seria irrealista exigir da demanda empuxo mais vigoroso.

Tudo balanceado, os analistas não arriscam prever expansão da economia acima de 0,5% no primeiro trimestre, com a maior parte das estimativas indicando crescimento entre zero e 0,3%. Fevereiro pode compensar janeiro, mas março dá sinais de que caminha para agregar pouco ao trimestre.

Se estas previsões se confirmarem, para fechar o ano com 2% de crescimento, cada um dos três trimestres restantes terá de registrar avanço médio próximo de 1%. Não parece tarefa trivial.

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