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Enrolação oficial

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Por Redação
Atualização:

Há um ritual na divulgação de números oficiais da economia. No IBGE, na Receita Fedferal, no Banco Central, alguns dos principais disseminadores de informações oficiais do governo, a divulgação de dados tem calendário previamente conhecido.

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A divulgação pública é feita para a imprensa, em entrevistas coletivas. Funcionários graduados resumem as informações para os jornalistas e se colocam à disposição para detalhar resultados e oferecer explicações para os fatos relatados. As explicações oferecidas também são oficiais. Os funcionários falam em nome das instituições que representam e, logicamente, do próprio governo.

É para ser um ritual de transparência. Mas, às vezes, essas características escapam desse processo democrático. Como se trata de um ritual que se repete na normalidade da vida republicana são poucos os que percebem quando se dão as escorregadas.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, comanda o ritual da divulgação de dados oficiais apurados pela instituição algumas vezes por mês. Há anos, normalmente, ele fornece aos jornalistas explicações analíticas a partir dos resultados apresentados e faz projeções para os próximos períodos.

Agora, na divulgação da "nota econômico-financeira do setor externo", na segunda-feira, Lopes apresentou o recorde histórico negativo do item viagens internacionais. O gordo déficit, segundo Lopes, foi provocado pela "boa condição da economia brasileira, que tem experimentado aumento de emprego e renda, o que dá condições a mais famílias de viajar para o exterior". Lopes também observou que "há maior difusão da cultura de viajar ao exterior" e que, por isso, "segmentos que não faziam viagens internacionais passaram a fazer".

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Beleza. Só faltou incluir um detalhezinho entre as causas do déficit histórico: o nível da taxa de câmbio. Na prática, o chefe do Departamento Econômico do BC tentou enrolar o público

O problema é que a moda está pegando. Dez dias antes, o coordenador-geral de Estudos, Previsão e Análise, Victor Lampert, ao divulgar, em nome do secretário da Receita Federal, Otacilio Cartaxo, os dados do Fisco em junho e no semestre, alegou que não poderia dar explicações econômicas e fazer previsões para os dados... por determinação do secretário.

"O secretário (Cartaxo) me orientou a não fazer isso", disse Lampert, no relato do Estadão. Por várias vezes, o coordenador ameaçou abandonar a entrevista. Segundo ele, Cartaxo deu a "pauta" do que ele poderia falar.

Resumindo: o governo e seus representantes não podem tratar as entrevistas coletivas marcadas para a divulgação e análise dos resultados econômicos oficiais como um aborrecido e desimportante estorvo burocrático. É prestação de contas à sociedade e não enrolação da sociedade.

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