Escolha acertada na FAO

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

A eleição do economista brasileiro José Graziano da Silva para a direção da FAO, o braço da ONU para agricultura e alimentação, coroa uma carreira exemplar na busca de soluções sustentáveis para a fome. Graziano ficou nacionalmente conhecido, nos primeiros passos do governo Lula, como coordenador do programa Fome Zero, a primeira tentativa do então novo governo de emplacar um projeto sistêmico de transferência condicionada de renda. Mas não conseguiu emplacar o projeto que elaborara.

PUBLICIDADE

Ressentimentos eleitorais acirrados pela excessiva marquetagem em torno do programa de combate à fome no Brasil, levaram Graziano e o Fome Zero a tomar tanta pancada que muito cedo ele e seu programa foram substituídos por Lula. Os ataques revelavam incompreensão sobre o conceito de segurança alimentar que o programa objetivava introduzir, mas prosperaram no terreno adubado por trapalhadas administrativas iniciais e pela ingenuidade política do acadêmico transformado em ministro.

Os esforços, naquele episódio, para manchar a reputação de Graziano, como formulador e executor de um programa muitas vezes levianamente acusado de inconsistente, ocupam lugar de destaque nas prateleiras das injustiças cometidas contra estudiosos honestos e dedicados. Os progressos brasileiros dos últimos no combate à fome e agora a chegada de Graziano à direção-geral da FAO ajudam a repor as coisas um pouco no lugar.

Graziano e a FAO têm tudo a ver, mas os desafios que ele terá pela frente não são pequenos. Há, no momento, uma combinação desfavorável de aumento da fome no mundo com perda relativa de importância do órgão multilateral que cuida do enfrentamento do problema.

Faz muito tempo que o antigo problema da produção de alimentos está superado. Existe comida suficiente para alimentar toda a população do planeta. A questão, agora, de acesso. Quando os preços dos alimentos sobem, por problemas climáticos, logísticos ou especulação financeira, o número de famintos tende a aumentar.

Publicidade

Antes da crise de 2008, a FAO contabilizava um total em torno de 800 mil seres humanos em situação de insegurança alimentar, numa trajetória de queda. Mas o número voltou ao patamar de um bilhão, no qual se manteve por muito tempo, com a elevação das cotações das commodities alimentares e a generalizada inflação dos alimentos.

Ao mesmo tempo, a FAO parece ter perdido espaços nos fóruns de decisão econômica internacionais. Muitas dos temas que dizem respeito à produção, armazenamento, transporte e comercialização de alimentos são hoje mais debates na Organização Mundial de Comércio (OMC) ou nos grupos do tipo G-8, G-20 ou G-77 do que no âmbito da FAO.

Assegurar alimentação de qualidade, em quantidade suficiente, de forma sustentável e permanente nas áreas de maior pobreza é uma das tarefas mais complexas - e nobres - a que especialistas podem enfrentar. Poucos, se é que existem, estão mais equipados do que o brasileiro Graziano para o desafio.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.