Nervosismo no câmbio

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Por Redação
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A já persistente - e, antes disso, acelerada - escalada da cotação do dólar começou a incomodar espíritos mais ansiosos. Entende-se: só nos primeiros vinte dias de setembro, o real desvalorizou-se 16% frente o dólar e apenas na sessão desta quarta-feira subiu 2,8% - a maior alta diária desde o simbólico outubro de 2008.

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Além de razões conjunturais, articuladas com o sombrio ambiente global - o que, entre outros efeitos, aguça a chamada "aversão a riscos" e o conseqüente repatriamento de recursos -, os especialistas em câmbio são praticamente unânimes em apontar as recentes decisões do governo, na área monetária e cambial, como o centro do movimento de desvalorização.

Ao cortar a taxa de juros e travar posições vendidas no mercado futuro de câmbio criou situação de pressão para os investidores, que carregam essas posições. Eles apostavam na valorização do real e na alta (ou manutenção) da taxa básica de juros e estão perdendo nas duas apostas. No último mês e meio, conforme apurou a Agência Estado, aplicadores no mercado futuro reduziram a posição vendida de um total entre US$ 20 bilhões e US$ 22 bilhões para US$ 8 bilhões a US$ 9 bilhões.

A tendência, para os especialistas, é que o próprio mercado se mova no sentido de ajustar posições. De qualquer maneira, o Banco Central também resolveu não arriscar e, antes do esperado movimento de mercado, decidiu, também nesta quarta-feira, não renovar os contratos de swap cambial reverso com vencimento em outubro. Ou seja, reverteu, na prática, a perspectiva de comprar moeda americana.

Altas bruscas e rápidas nas cotações do dólar produzem compreensível nervosismo. Em quadros assim não há como evitar temores de recrudescimento da inflação e a circulação de boatos sobre devedores em dólar com dificuldades para cumprir compromissos.

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É desperdício, no entanto, descarregar adrenalina antes de ter uma ideia melhor da trajetória possível da taxa de câmbio. Parece claro que, se a tendência de desvalorização do real se consolidar e projetar no tempo, a política em curso terá de ser revertida.

Apoiada, no entanto, nas mesmas razões que pressionavam até recentemente pela forte valorização da taxa de câmbio - e que ainda permaneceriam atuando -, a maioria dos especialistas acredita que o real voltará a se apreciar depois de atingir algum pico cujo nível ainda não é possível determinar.

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