Perspectivas para o PIB continuam negativas

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Por José Paulo Kupfer
Atualização:

No começo de 2015, quando as projeções médias do mercado indicavam retração atividade econômica em torno de 1%, em relação a 2014, os analistas esperavam que o fundo do poço fosse alcançado no terceiro trimestre do ano. A variação do PIB, em relação ao trimestre anterior, naquele ponto, ainda seria negativa, mas em ritmo menor, preparando o terreno para  a estabilidade prevista para o último quarto do ano. A realidade, porém, soterrou as estimativas e o quadro que se pode ver hoje é bem pior.

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O recuo de 1,7% sobre o segundo trimestre, mais forte do que esperavam os analistas, é ainda mais significativamente negativo em razão da revisão para baixo da variação do nível de atividade dos trimestres anteriores. Na comparação com o período abril-junho, todos os componentes do PIB, exceto os gastos do governo, registraram contração e todos, sem exceção, recuaram em relação ao terceiro trimestre de 2014, mostrando quedas recordes desde que a atual série estatística foi inaugurada, há quase 20 anos.

Depois desses números, as previsões para o PIB fechado de 2015 e 2016 afundaram mais um pouco, situando-se agora numa faixa de contração entre pelo menos 3,5% e 4% para este ano e apontando para o entorno de 3% em 2016. A perspectiva de que o quadro recessivo se acentue ainda mais tem origem no desempenho pior do que o esperado do consumo das famílias e por tabela do investimento, embora o ritmo de queda de ambos, em relação ao trimestre anterior, tenha arrefecido um pouco.

Essas projeções revelam sem a menor dúvida não só um aprofundamento das dificuldades na economia, como uma maior amplitude dessas dificuldades no conjunto dos setores econômicos. A percepção generalizada da evolução desfavorável do mercado de trabalho, sob o impacto da retração da atividade, dá sustentação à previsão de que a contração do consumo e do investimento, e com isso da economia como um todo, ainda não chegou ao fundo do poço.

Configura-se, para resumir, um quadro de contração longa e profunda, razoavelmente semelhante ao padrão dos episódios recessivos de 1981/83 e 1989/92, em que crises econômicas foram turbinadas por turbulências políticas.ainda que sem a existência, como naqueles casos, de uma situação de hiperinflação. 

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