David Eagleman, neurocientista e autor, nos brinda com essa reflexão sobre nossa realidade. Essa compreensão torna o trabalho sistêmico ainda mais relevante e natural diante de como funcionamos.
Mais do que inspecionar nossas próprias ideias, a introspecção e autorreflexão devem incluir e se beneficiar das informações valiosas sobre o ambiente que o corpo captura. Graças aos nossos neurônios espelho, verdadeiras "antenas de rádio" que capturam informações sutis do ambiente, temos muita informação do ambiente processada pelo corpo. O acesso a esse acervo é muito simples, embora não praticado: entender o nosso sentir. Falo aqui de escutarmos nossas sensações, perguntar o que elas trazem de informação. O trabalho sistêmico em constelações ou coaching sistêmico se beneficia ao integrar o pensamento racional e analítico ao sentir, trazendo uma visão mais completa das situações e assim soluções mais efetivas.
Hoje descrevo um trecho de uma sessão de coaching executivo sistêmico e convido você a dar uma espiada em como essa abordagem diferente pode fazer a diferença. Faço isso porque se fala cada vez mais do trabalho sistêmico (em sistemas vivos) e gostaria de aproximá-lo mais das pessoas e organizações. O trabalho sistêmico tem seus valores intrínsecos de inclusão (Lei do pertencimento) e respeito (ordem: quem veio antes, quem veio depois, o que cada um fez ou como contribuiu), integridade e transparência (trocas justas, accountability).
Foi 28 minutos o tempo de sessão necessário para uma mudança que fez a diferença. No momento inicial da sessão de coaching na sexta-feira, eu estava diante de uma executiva altamente ansiosa.
Pandemia, uma filha de 1 ano de idade, um trabalho no Vale do Silício que adorava, mas que por uma restruturação, iria lhe demandar muito mais, incluindo fusão de dois times, lidar com o par que iria para outra área enquanto ela assumiria sozinha o que antes os dois faziam em times distintos. Não bastasse esse desafio, foi convocada para participar de uma due dilligence e um planejamento para 3 anos.
Focamos na passagem de bastão do time que irá, junto com o time dela, compor a nova estrutura de 50 pessoas. Primeiro lhe perguntei quem faria o anúncio na segunda-feira. Ela e o gestor, que também estava partindo para outro desafio. Perguntei o que sentia. Ela falou do dilema: "A questão é se faço as mudanças do meu jeito rapidamente ou se olho mais para o time. O outro ponto é que o antecessor não gostou dessa mudança."
Pedi que pegasse uma segunda cadeira. E lhe disse que nessa cadeira estaria o time novo dela. Ainda em sua cadeira, quando perguntei como sentia, respondeu que estava um pouco ansiosa.Pedi que se levantasse e trocasse de cadeira, e entrasse em contato com as informações do time. Ela sentiu que o time estava com muitas dúvidas, sem saber o que iria acontecer.Com esta informação, pedi que voltasse para sua cadeira. Perguntei qual a diferença e ela disse que estava um pouco mais calma de entrar em contato com o time. A essa sondagem somática chamamos de conhecimento incorporado (vivido no corpo). Pedi que dissesse ao time: "Eu vejo vocês."Depois de repetir por três vezes o "Eu vejo vocês", solicitei que retornasse à cadeira do time e checasse se algo aconteceu. Sim, o time também estava mais relaxado e contribuindo.
Essas trocas de cadeira abriram um espaço para que ela saísse do OU para se ver trabalhando em conjunto com o time. Ofereci trabalharmos sua fala para segunda-feira. Depois da terceira ou quarta frase a interrompi e provoquei: olha, você já me perdeu aqui; está falando rápido (fala mental, sem presença de fato) e não me sinto vista. Pedi que olhasse para uma foto com muitas pessoas que compartilhei na vídeo-chamada, imaginando que eram seu time. Pedi que repetisse o "Eu vejo você" mentalmente e respirasse. E recomeçou.
Mas, tendo em conta as leis sistêmicas, sabia que até ali havíamos trabalhado questões de pertencimento. Ainda tínhamos mais um pedacinho...Honrar o antecessor. Reconhecer quem veio antes e suas contribuições é muito importante, mas tem que ser verdadeiro. Pedi que refletisse sobre algo que genuinamente admirasse como contribuição de seu antecessor. E repetimos o processo, agora incluindo um agradecimento ao seu antecessor. E nesse momento ela olhou no relógio e falou "Nem acredito que já conseguimos tanto em apenas 28 minutos."
Até aqui na sessão a executiva teve a oportunidade não só de usar sua mente analítica brilhante, mas de integrar a ela as sensações e sentimentos, ou inteligência somática, para ter um quadro mais completo. Explorar a situação chegando até ao role play também lhe trouxe informação e lhe deu uma chance de treinar como sair de seu piloto automático.
Espero que o exercício de trocar de cadeiras lhe sirva em momentos importantes, pois ajuda muito a ampliar a visão, incluindo uma maior diversidade de pontos de vista. Pratique a sabedoria incorporada, em que integramos mente e corpo conforme a natureza nos projetou.