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Opinião|a vida que flui através da estrutura

As organizações humanas têm uma natureza dual - assim começa Fritjof Capra para apresentar uma abordagem sistêmica para nossas instituições, em particular, as empresas.  As empresas são instituições sociais com um propósito próprio e possuem uma estrutura especificamente desenhada, como por exemplo, em seus documentos oficiais e contratos.   Ao mesmo tempo, toda empresa é uma comunidade de pessoas, redes vivas, que atualmente são chamadas de comunidades de prática, em que as pessoas fazem amizades, alianças, que tornam suas atividades significativas num nível pessoal. 

Atualização:

A vitalidade e o caráter sistêmico e de rede já existe em todas organizações. Os líderes talentosos identificam e reconhecem a parte viva da organização em suas redes informais e as legitimam e empoderam. 

 

Como as coisas realmente funcionam por aqui?

Quem é amigo de quem?

Quem são os influenciadores?

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Qual o lema da área?

 

As respostas a essas e outras perguntas semelhantes são a parte viva da organização. É flexível, evolui, se adapta e é vital para o funcionamento da organização. Essa fluidez  de interações humanas, de improviso, de espontaneidade é um pré requisito para que a organização funcione como um sistema que cresce e evolui.

E Fritjof Capra nos relembra sobre sistemas vivos: eles estão continuamente se auto-gerando, inovando, regenerando, desenvolvendo e evoluindo. 

Aqui começa nossa dificuldade sobre o que é e como deve ser a liderança. Talvez também tenhamos que distinguir dois tipos: uma liderança formal e estrutural - que aparece nos organogramas, responsável por articular uma visão e tudo o mais que já é bastante conhecido na liderança tradicional e a segunda forma é uma liderança viva, em rede, distribuída, que promove e facilita a criatividade e as redes informais. Esse tipo de liderança é muito necessário hoje pois o ambiente de negócios é muito complexo e muda rapidamente.

Vamos olhar mais de perto a criatividade em sistemas vivos: estudos sobre sistemas vivos descobriram que mesmo quando um dado sistema vivo se mantém em um estado de equilíbrio através de loops de feedback de auto balanceamento. Mas, pode acontecer algum distúrbio que em lugar de ser balanceado, acaba por ser amplificado pelos loops de feedback.  Esse feedback positivo que amplifica o distúrbio até que o sistema como um todo fique instável e chegue num ponto em que ou ocorre o colapso ou, com maior frequência, um avanço a um novo estado. Essa nova ordem que emerge espontaneamente em pontos críticos de instabilidade é reconhecida como um dos diferenciais da vida.  É a dinâmica básica do aprendizado, do desenvolvimento e da evolução. Ou seja, a criatividade, o emergir do novo, é uma propriedade da vida. 

Agora, voltando para as organizações, se o líder reconhece que por sua própria natureza viva a organização é criativa, sua tarefa enquanto líder passa a ser cultivar e viabilizar essa criatividade que já está lá.

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A rede viva das organizações se dá principalmente através das redes de comunicação, que precisam estar vivas e ativas. E, precisam estar abertas a perturbações. Porém, quando o ponto de instabilidade chega, as pessoas normalmente ficam com medo, pois esse é um ponto de dúvida, crise, incerteza. É aqui que o líder precisa passar a mensagem que isso faz parte do processo. Trabalhar a segurança psicológica.

Assim a criatividade funciona. Se a comunidade se mantém conectada ao longo do processo de transição, novas formas de organização, de estrutura, de ordem poderão emergir. 

Nem tudo que emerge será viável. É preciso decidir e ter margem de erro. A criatividade não acontecerá se você precisar sempre acertar. 

Então as organizações precisam da estrutura desenhada, dos processos, para que as pessoas saibam quem faz o que, quais projetos estão envolvidas; e precisam de flexibilidade. adaptabilidade, criatividade. A arte da liderança estará em equilibrar a estabilidade da estrutura e a criatividade do que emerge. Ambos são necessários e geram tensão. Por favor, líderes, não varram essa tensão para baixo do tapete.  Trabalhá-la é o melhor caminho. 

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Opinião por Claudia Miranda Gonçalves
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