Foto do(a) blog

Veja o que você não vê

Opinião|Cotas para Mulheres em Conselhos de Administração -- Sim ou não?

No Brasil tecnicamente não há desigualdade para o acesso das mulheres ao mercado de trabalho, porém está comprovado que a presença de mulheres no alto escalão das empresas ainda é extremamente reduzida, da ordem de 8%, com progressão pouco significativa no decorrer dos últimos anos .

PUBLICIDADE

Atualização:

Nas 500 maiores empresas no Brasil, conforme pesquisa realizada pelo Instituto Ethos em parceria com o Ibope, em 2010, a participação das mulheres é inversamente proporcional ao nível dos cargos: aprendizes 37%, quadro funcional 33,1%, supervisão 26,8%, gerência 22,1% e diretoria executiva 13,7%.

PUBLICIDADE

Ou seja, temos muitas mulheres entrando em empresas, mas poucas chegando ao topo.  Até aí, nada de novo.Há diferentes explicações para tal fenômeno.  Algumas são direcionadas às escolhas das mulheres: vontade/necessidade de melhor equilibrar vida pessoal/profissional muitas vezes devido à maternidade ou falta de auto-confiança para pedir promoções.  Outras explicações reforçam o contexto: mesmo com todo o foco atual em diversidade, pessoas tendem a preferir o que é parecido (vulgo, homens selecionam homens) ou, pior, crenças como "mulheres não são tão xyz".

Independente dos motivos, os fatos são incontestáveis: há desigualdade e ela piora quanto mais se sobe na hierarquia.  Consequentemente, em nenhum lugar essa disparidade é tão evidente como nos conselhos.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) 7,2% dos membros de conselhos de administração das empresas de capital aberto são mulheres. Se excluirmos as herdeiras, a participação cai para 4%. Mais alarmante ainda, os conselhos de mais de dois terços das empresas com ações negociadas em bolsa no Brasil  são exclusivamente masculinos.

Uma saída para equilibrar essa desigualdade é a implementação de cotas. Mas...elas fazem sentido nesse caso?

Publicidade

Em vários países do mundo, cotas para mulheres em conselho foram implementadas, tanto por decreto com sem decreto.  Os resultados?   Veja abaixo:

POR DECRETO

 Foto: Estadão
 Foto: Estadão

O Brasil se encontra atualmente em estado de transição.  Isso porque foi aprovado um projeto no Senado (PLS-112/2010)* que estabelece que os conselhos de administração das empresas públicas, sociedades de economia mista e demais empresas controladas pela União tenham percentual mínimo de mulheres em sua composição por etapas (10 % até 2018, 20% até 2020 e de 30% até 2030). Sem alguma intervenção desse tipo (e mantendo o ritmo de crescimento dos últimos anos), a previsão é que somente daqui a 100 anos esse número chegaria a 10%. 

Mas então as cotas são boas ou ruins?  Minha intenção não é indicar "a verdade", mas sim provocar uma reflexão a respeito.  Para tal, seguem alguns argumentos para cada um dos lados:

Argumentos favoráveis:

Publicidade

1 - Acertar uma desigualdade histórica e cultural, com a valorização da igualdade de oportunidades.

2 - Exemplo de outros países que não progrediram sem cotas ou, no mínimo, sem que tivesse havido uma grande "ameaça" de implantação destas.

3 - Necessidade de se neutralizar o "old boys club", como a seleção de Conselheiros geralmente é feita entre nomes de uma rede de contatos restrita do alto escalão, onde as mulheres ainda têm pouca representatividade.

4 - Importância de favorecer a diversidade de comportamentos nos conselhos.

5 - Existência de algumas características femininas essenciais para desempenho de suas atividades em conselhos: Intuição e bom senso.

Publicidade

 

Argumentos contra:

1 - Meritocracia é um critério menos sujeito à discriminação.

2 - Estado não pode ser intervencionista.

3 - Risco de se estar tirando executivas talentosas antes do seu amadurecimento completo ao levá-las para Conselho de Administração.

4 - Terceira via surgindo em países como Reino Unido e EUA, onde grupos independentes de empresas definem metas voluntárias para aumentar a presença feminina nos conselhos e no alto escalão.

Publicidade

5 - Possível desvalorização, em termos de inclusão no processo de tomada de decisão e mesmo na remuneração, das profissionais do sexo feminino nomeadas pelo sistema de cotas em relação a seus colegas homens.

Como se pode ver, há argumentos válidos para ambos os lados.  O que torna uma determinação definitiva um processo não necessariamente rápido.  Então, o que você pode fazer enquanto isso?  O que está dentro do seu alcance?

No artigo "Mulheres no Comando" menciono uma série de dicas. Mas, em geral, podemos:

- Investir na formação técnica do maior número de mulheres para assumirem a posição de Conselheiras (a exemplo do Advanced Boardroom Program for Women da Saint Paul Escola de Negócios e do Curso para Conselheiros de Administração da IBGC)

- Criar consciência coletiva, visto que "culturalmente se não tivermos lição de casa não estudamos", com a obrigatoriedade de refletir sobre o tema

Publicidade

- Estimular diversidade na entrada do mundo corporativo

- Estimular o networking

- Promover discussões sobre o tema (eventos, debates, etc.) valorizando a contribuição da diversidade de gênero (entre outras) para o bom funcionamento da governança

E você, o que acha do assunto?

*Cabe salientar que o PL 112/2010 ainda não foi transformado em Lei Ordinária e só regula os conselhos de administração de empresas públicas (lato senso) e controladas pela União restringindo bastante o universo de conselhos de administração no país.

Publicidade

 

 Foto: Estadão

Paula Braga

Paula Braga é daquelas felizardas que pode dizer que ama o que faz, e considera sua missão ajudar às outras pessoas a se sentirem da mesma forma. Coach e autora do blog "MBA de A a Z" do Estadão, Paula também dá pitacos sobre outros temas relacionados a carreiras e realização pessoal.

Opinião por Claudia Miranda Gonçalves
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.