Claudia Miranda Gonçalves
03 de março de 2020 | 06h59
Por Livia Zillo
Não venho de uma família de empreendedores natos. Minha mãe é psicóloga e meu pai é contador. Minha mãe se dedicou à família após o nascimento dos filhos, e meu pai trabalhou de office boy na empresa da qual ele hoje é dono, e apesar desta história soar como a história de um empreendedor, lhes garanto que o mindset do meu querido pai é de alguém que trabalha para uma corporação, e não de alguém dono de uma empresa.
Eu não cresci sendo estimulada a ter meu próprio negócio.
Aliás, em casa, falava-se muito em ter estabilidade e segurança financeira, e os concursos públicos eram sempre citados na mesa do jantar. Meus pais me deixaram livres para escolher minha profissão, a qual escolhi quando tinha 17 anos, ainda imatura e com um “pensamento mágico”, ingressei na faculdade de biologia. E bióloga me tornei aos 21 anos. Não me identificava com nenhum tipo de trabalho que exigisse rotina ou repetição de atividades e por isso ingressei na área acadêmica e de pesquisa, onde trabalhei por 10 anos. Como por alguns anos, especialmente no início da carreira de cientista o salário é muito baixo, comecei a fazer bijuterias para vender. Observei um mercado que tinha acesso e demanda, trabalhava quase que exclusivamente com mulheres, que tinham mães, irmãs e amigas, pedia à minha mãe e primas que oferecessem meus ítens em seus locais de trabalho, não abri uma empresa, não oficializei o negócio, era mesmo de boca a boca, e por um ano eu consegui somar pelo menos o dobro do que ganhava como cientista, até que engrenei na carreira de cientista e faltou tempo para dedicar para minhas bijuterias. Sucesso.
Meu modus operandi sempre se caracterizou por procurar em um trabalho: flexibilidade, dinamismo, diversidade e criatividade,
o que me levou a buscar uma nova profissão, uma vez que senti a área de pesquisa cada vez mais engessada e limitada no Brasil, em comparação com o resto do mundo. E por aí fui, me descobrir. Decidi cursar Fotografia, e abri minha pequena empresa alguns meses depois. Trabalhei como fotógrafa, e já nessa experiência senti algumas dores dos empreendedores no Brasil. Impostos, divulgação e indicações. Também senti a solitária jornada de se trabalhar sozinho e consequentemente precisei olhar para minhas características pessoais e profissionais, e me fazer perguntas difíceis, com o intuito de evoluir e buscar mais clareza para o meu objetivo final. Cheguei à conclusão que não tinha ideia do meu objetivo final, e é claro que a carreira como fotógrafa não engrenou. Fracasso.
Fiz uma mudança radical de vida nesse mesmo período. Me mudei para os Estados Unidos. Lá, busquei um curso de auto-conhecimento, com o intuito de ter clareza dos meus objetivos, meu propósito e os obstáculos que me impediam de ter sucesso no meu próprio negócio. Duas semanas após o início do curso eu tinha 3 clientes…sim, assim como você eu também não entendi essa dinâmica. O curso era em Coaching Ontológico e de Liderança, e comecei a mapear o meu movimento para que logo no início do curso eu já tivesse 3 clientes. Boca a boca. Antes de iniciar o curso eu comentei com amigos e amigos de amigos que iniciaria um curso em desenvolvimento humano, e pasmem….muitas, muitas pessoas se interessaram em fazer comigo um processo de auto-conhecimento. Essa clientela escalonou…tinha clientes nos Estados Unidos e no Brasil (os quais eu atendia remotamente), e foi aí que decidi abrir um CNPJ para essa empresa, aprendi a geri-la remotamente, fazer parcerias remotamente, escrever artigos que alcançassem a comunidade brasileira, enfim, foi uma época de muitos erros e acertos e durante 8 meses aproximadamente, tive dezenas de clientes. Como as coisas aconteciam muito organicamente, não me preocupei com propósito, objetivos, missão, valores…fui tocando a empresa do modo que chegavam os clientes, honestamente não sei se a longo prazo isso funcionaria por muito tempo, mas foi o que funcionou para mim nesse período, que também não durou muito.
Uma das minhas parcerias surgiu com a minha ex-coach que havia se juntado a uma sócia em uma empresa de Coaching e Consultoria acadêmica. Após 3 meses do início dessa parceria eu tomava a decisão de fechar a Livia Zillo Coaching, e empreender com mais duas sócias em uma empresa chamada Ikigai – que em japonês quer dizer “razão de ser”, propósito. O meu para quê nesse momento ficou muito claro, impactar pessoas de uma maneira que sozinha seria inviável.
Como diz o ditado: “Sozinhos vamos mais rápido, mas juntos vamos mais longe”.
A mudança fez sentido e alguns meses depois eu me mudava de volta para o Brasil, onde compraríamos um escritório juntas e daríamos adeus à uma das sócias. Fracassos e sucessos.
Investir em um patrimônio, passar de MEI para Sociedade Simples, considerar estratégicas de mercado e marketing para atingir nosso público alvo, ganhar 2 sócias, perder uma sócia, e atualmente ganhar novamente uma terceira – com outro background, outra bagagem. Evoluir, flexibilizar, persistir, comunicar, descobrir e redescobrir, reinventar. É só um pouquinho do que aconteceu nessa minha evolução empreendedora. E aí vocês me perguntam, quais as lições aprendidas desta jornada? Deixo para vocês, algumas dicas para quem pensa em empreender ou já está empreendendo:
Por último, mas não menos importante, ou talvez, o mais importante: saiba o seu PARA QUÊ e o PARA QUÊ da sua empresa.
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