Claudia Miranda Gonçalves
30 de junho de 2020 | 10h04
Temos o seguinte padrão em momentos em que nosso chão treme: ideias novas são suprimidas, negadas, ou ainda ridicularizadas. Nicholas Klein, em 1918 disse a seguinte frase, algumas vezes erroneamente atribuída a Ghandi: “Primeiro te ignoram, depois riem de ti, daí te combatem, e aí você ganha.”
Existe uma inegável fricção entre os que se agarram aos padrões em vigor e os pioneiros em adotar algo novo. Essa fricção gera rachaduras nos sistemas, mas podemos ouvir essas rachaduras acontecendo. Eis alguns dos sons dessas rachaduras.
Os acordes da dodecafonia nos sistemas
Nos sistemas vivos observamos alguns indicadores em comum quando mudanças estão para acontecer, ou já estão em curso. Alguns deles são:
E se, em lugar de resistir, fossemos mais parecidos com a natureza e nos adaptássemos com maior facilidade? Desastres naturais como incêndios, terremotos redefinem e recompõem os sistemas. Mas somos nós que chamamos esses eventos de desastres; não sei se a natureza os vê assim. Talvez a natureza prefira referir-se a esses eventos por wabi sabi.
Wabi Sabi
A natureza pratica a regeneração, que, em sistemas vivos, permite a evolução quando uma forma (paradigma, visão de mundo) não pode mais dar sustentação ao futuro da vida (as gerações a seguir).
A nossa dificuldade é que nos apaixonamos pelas formas (receptáculos) que criamos para estruturar ideias, programas, processos. Criamos leis para manter as formas tradicionais de poder e privilégios. Nas organizações criamos estruturas e processos que mantêm hierarquias e modelos de compensação por muito mais tempo do que sua real utilidade. Precisamos pensar em novas formas, menos rígidas, para que nossos sistemas possam evoluir e nos servir enquanto humanidade.
Deixar ir o que já não serve é bem diferente de descartar as sabedorias das tradições. O wabi sabi para mim representa a beleza da vida (im)perfeita. As assincronias, assimetrias, rachaduras e quebraduras. Todas essas coisas são celebradas pelo wabi sabi (um exemplo clássico são as porcelanas quebradas que são coladas por um fio de ouro). O fio de ouro conta uma estória, tem ali uma sabedoria e reconhecimento e “evolução” da peça.
Algumas formas novas de gestão são muito próximas do wabi sabi – são vivos, aceitam choques, mudanças e se fortalecem no processo. Gestão mais colaborativa, holacracia, equipes mais empoderadas. Metas de curto prazo, MVP…e por aí vai. Novo? Nem tanto.
Eu nos deixo aqui com a pergunta:
O que pode nos ajudar a todos, sem deixar ninguém de fora, a regenerar nossa sociedade e nossa forma de viver?
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