PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Veja o que você não vê

Opinião|Resiliência e aprendizado

Há duas semanas um cliente contou que havia sugerido fechar o prédio de sua empresa e trabalhar remoto por meio período apenas para simular uma eventual quarentena e aprender com os erros e acertos da situação. Após alguma discussão, sua sugestão foi descartada. Mas, poucos dias depois, aconteceu um caso e a empresa teve que fechar o prédio, sem ter feito a simulação. 

Atualização:

tipos de problemas em termos de complexidade  

Como anda nossa habilidade de responder ao que está acontecendo?  

PUBLICIDADE

Algumas reflexões sobre a pandemia e como podemos aprender com ela.

Nossa habilidade em perceber e estar atentos aos eventos disruptivos é essencial para adaptação e resiliência frente a mudança.  Um grande impacto do coronavírus tem sido a velocidade de resposta de governos e organizações em reconhecer a ameaça e suas implicações potenciais. Quanto antes uma pessoa, organização ou governo se deu conta o problema, mais rapidamente a ameaça foi controlada. Os que não estavam atentos ou não quiseram entender a informação, ou pior, tinham uma agenda de reduzir o impacto dessa ameaça, atrasaram suas respostas e aumentaram a ameaça.

Precisamos ver como todas as partes em movimento se conectam e criar padrões "transcontextuais" que podem nos ajudar a desenvolver estratégias melhores.  Para entender como se adaptar e criar estratégias, precisamos procurar padrões na interconexão de diversos sistemas. Com o coronavírus, temos saúde, viagens, cadeias de suprimentos e estratégia, vontade política e resposta, capacidade adaptativa de nossas respostas, reações emocionais à ameaça, capacidade de aprendizagem, respostas de corporações e comunitárias, e um número de outras coisas interagindo e colidindo. Se tentarmos analisar o que está acontecendo de uma dessas perspectivas apenas, continuaremos a ter pontos cegos conforme mais implicações se desdobram. É importante criar espaços de conversas transcontextuais como o Warm Data Lab, criado por Nora Bateson, para ver emergir tais estratégias. (https://economia.estadao.com.br/blogs/lentes-de-decisao/6-licoes-em-6-di...com-nora-bateson/ ?)

Quanto mais buscamos lições a serem aprendidas desse evento, mais rapidamente conseguiremos redesenhar nossas práticas na direção de algo mais viável a longo prazo. Nossos modelos de negócios atuais estão focados em lucros. Assim, tomamos muitas decisões que criaram uma única cadeia de suprimentos para muitos bens e serviços. Por exemplo, escolhemos usar a China como a fonte primária de suprimentos por conta de sua mão de obra barata. Porém, como não criamos alternativas, redundâncias, o colapso da China nesse período ameaça a sobrevivência de diversas empresas. Já a natureza é concebida para resiliência e regeneração. Ela cria redes de alimentação em lugar de cadeias únicas de alimentação. Numa cadeia única, se uma espécie morre, todas as outras que se alimentam desta também morrem. Numa rede de alimentação, se uma espécie morre, há redundância na rede e outras espécies e plantas preenchem essa lacuna. A lição para nossos negócios é sobre o risco de otimizar uma parte do sistema em lugar de olhar a saúde do negócio a longo prazo. Precisamos criar redes de suprimentos, assim como a natureza faz.

Publicidade

Para redefinir a estratégia, precisamos focar na resiliência do sistema mais amplo ao longo do tempo. A natureza é um sistema de curto e longo prazos. Ela sempre equilibra as necessidades de curto prazo com as de longo prazo. Na natureza, o foco está em evoluir o sistema todo ao longo do tempo. A natureza pergunta: esse design vai ajudar o sistema a regenerar e criar condições que conduzam à vida futura? E se nossas corporações usassem o mesmo critério para tomar decisões? O que mais redesenharíamos além das cadeias de suprimentos?

Quais lições podemos aprender?

Há diferentes formas de se responder ao coronavírus. Primeiramente focar no que precisa ser feito e no que precisamos saber para desenvolver uma estratégia para conter a pandemia. Depois precisamos examinar como este vírus está expondo nossas fragilidades ou falta de resiliência nos negócios, investimentos, e práticas de liderança. Por fim, precisamos buscar mais profundamente as lições que nos ajudarão a mudar nossos padrões e premissas daqui em diante e redesenhar para termos uma resiliência maior no curto e longo prazos. 

 

Opinião por Claudia Miranda Gonçalves
Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.