Considerações sobre talento Percebemos o talento mais facilmente na arte e no esporte e é nessa medida que falo que talento é transformação. É criar algo que não estava ali, a partir de outras coisas; é aproveitar oportunidades, fazer o inusitado; é essa criatividade que funciona. E o que mais podemos derivar sobre talento? 1. Talento é transformação Talento sem trabalho não é nada. Mas, sem talento, nada parece bom. A beleza do talento é que é admirado tanto dentro quanto fora do que é considerado sucesso comercial. Ou seja, o talento é valorizado universalmente. Nas empresas, o talento foi comoditizado na forma de gestão de talentos – a prática que primeiro desmembrou talento em cargos e depois em competências. Mais recentemente, essa forma de focar nas competências tornou-se desconexa. De expertise técnica agora buscamos a pessoa integral; de motivações ou objetivos mais externos passamos a estudar mais os aspectos internos às pessoas, como, por exemplo, active learning (base da andragogia, ou, aprendizado dos adultos), resiliência e tolerância a estresse. Para além dos talentos, as empresas estão buscando compatibilidade cultural com base em propósito compartilhado e valores. Peter Schutz, antigo CEO da Porsche dizia: Contate a índole, treine competências. Talento tem a ver com a índole, e ética pessoal e no trabalho devem caminhar juntas. Tendo como base uma ética firme, outros aspectos da personalidade podem ser mais maleáveis. A plasticidade das pessoas é importante no futuro do trabalho, pois todos estamos tentando descobrir nossos papéis num filme que nunca assistimos antes. Somada à uma ética firme, outra qualidade que está na base do talento é a imaginação. Precisamos ter a imaginação moral de ver nossos papéis no mundo levando em conta as relações com os outros, e precisamos ter a imaginação (artística) para materializar essa transformação. 2. Talento como micro-talentos Talento é composto de formas diferentes para cada pessoa, pois é feito de muitos micro-talentos que contribuem para a formação de um talento mais amplo. Na arte ou no esporte, onde vemos talento ou a falta dele, há o talento muscular, ou a memória muscular. Para além desse talento, há outros micro-talentos, como por exemplo, de ser sociável, da estética, da conversa, da conexão com o público, com o agente e os colegas. Pensar nisso me fez refletir quantas pessoas sabem de seus micro-talentos, mas ainda não descobriram como combiná-los numa receita de masterchef. Ou quantas pessoas procuram seu talento mais amplo nas mesmas esferas de seus micro-talentos. É preciso olhar mais amplo, um olhar do terraço. Outros ainda acreditam que um único talento será garantia de sucesso. Ao pensarmos o talento como uma composição, um mosaico de micro-talentos, a imaginação pode fazer a diferença. E mais uma vez chegamos na questão de que talento é transformação. 3. Você e seu talento Aqui vão algumas perguntas bem desconexas – mas a conexão cabe a você – para pensar no seu talento. - Toda pessoa tem a capacidade de ser criativa?
- Você já duvidou do seu talento?
- Com que frequência?
- Você se esforça para ser único?
- Ou ser único é superestimado?
- Inspiração é superestimada?
- O que é necessário para que você atinja o estado de fluxo?
- Qual sua cor favorita?
- Quais experiências terríveis (se houver) influenciam seu trabalho?
- Onde você encontra beleza?
- Você coloca mensagens ocultas em seu trabalho?
- Ajuda ou atrapalha ter um rival criativo?
- Importa saber como o resultado final parecerá/ soará/ será?
- Existe correlação entre um trabalho que você fez do qual você se orgulha e o desempenho comercial desse trabalho?
- O que o destemor ou a ousadia lhe proporcionam?
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