Por motivos distintos, a presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer decidiram sacrificar o ajuste fiscal nas contas públicas no curto prazo a fim de conquistar votos para ficar à frente do Palácio do Planalto, no caso do primeiro, e assumir o posto, no caso do segundo, na batalha do impeachment. Em resumo, a necessidade de apoio congressual ditará o comprometimento com a economia de cada um com a economia.
Para conquistar os fatídicos 172 votos de deputados para impedir a admissibilidade do afastamento da petista, o governo agirá em duas frentes. Na política, tem intensificado a liberação de recursos em emendas parlamentares e pretende concluir esta semana uma reforma ministerial para acomodar partidos da base e nanicos no espólio deixado pela fatia do PMDB que desembarcará do governo.
Ao mesmo tempo, Dilma e a equipe econômica adotaram uma série de medidas que retardam o ajuste e a reversão do rombo das contas públicas, que pode chegar a R$ 100 bilhões. No cardápio, há taxas de juros menores em operações do BNDES e fundos constitucionais, renegociação de dívidas agrícolas e dos estados com a União. Em contraponto, a reforma da Previdência foi engavetada e o governo deverá deixar para 2017 os impopulares aumento de impostos.
Aliados do vice, por seu lado, atuam para reverter a pecha de aliados do governo de que o vice quer apear a presidente do cargo por meio de um golpe. Querem carimbar o Palácio do Planalto como um balcão de negócios para impedir o afastamento de Dilma, embora também estejam discutindo a participação de partidos da base e da oposição num eventual governo Temer. Atuam também para fazer valer a decisão de entregar cargos do Executivo - só um dos sete ministros saiu e somente cerca de 1% dos 600 ocupantes de cargos de confiança deixou os postos.
Na economia, o grupo de Temer ainda não emitiu sinais claros sobre o vão fazer - não descartam aumento de impostos -, mas até renega, com receio de prejuízo político, a plataforma econômica liberal prevista o documento "Uma Ponte para o Futuro".
O mais grave nesse cenário é que os investimentos estão parados, o que sinaliza que a recuperação será mais lenta ainda, agravando as incertezas.
Parte do setor empresarial faz pressão e retarda os seus movimentos para novos investimentos à espera do impeachment numa aliança perigosa demais para a economia brasileira.
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