Por teimosia, convicção ou conveniência política, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, praticamente fechou as portas de negociação ao elevar, hoje pela manhã, o tom da sua contrariedade à mudança na meta fiscal de 2016.
Com o Congresso sob tensão após a ação de busca e apreensão da Polícia Federal - na casa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e em dependências de aliados do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - a declaração do ministro de que "não fica em pé" a possibilidade de redução da meta para preservar de cortes o programa Bolsa Família alimenta o estresse.
E tudo isso ocorre às vésperas da votação do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do próximo ano e de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o rito do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O ministro se mostra inflexível em relação à necessidade de manutenção da meta de superávit de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) - compromisso assumido com ele pela presidente Dilma - e de alguma forma coloca seu futuro nas mãos dos parlamentares que vão votar o projeto da LDO em plenário ainda nesta semana.
Afinal, na semana passada, Levy avisou a representantes da Comissão Mista de Orçamento (CMO) que não fica no governo se a meta for zerada, conforme revelou o Estado.
A presidente - que de fato quer mais flexibilidade para tocar o Orçamento em 2016 - busca uma saída para administrar o embate interno com Levy e a pressão por mudança da meta que vem também do Congresso.
Uma costura pode ser feita com o retorno da possibilidade de abatimento de despesas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), matéria que já havia sido vencida e que o titular da Fazenda também não topa. Em contrapartida, a equipe técnica avalia espaço de novos cortes nas despesas, de última hora, para serem incluídos no projeto de Orçamento.
A pergunta agora é o que acontecerá com o ministro se ele perder mais essa.
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