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Lula ministro fortalece governo, mas complica ajuste fiscal

Se o ex-presidente assumir um cargo na Esplanada, Dilma ganharia um forte aliado no momento em que seu mandato está ameaçado em razão do agravamento da crise. Mas deve dificultar a ação da equipe econômica para acertar as contas

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Por Adriana Fernandes e Ricardo Brito
Atualização:

Renan Calheiros e Lula ( Foto: AFP)

Por trás do desespero de uma blindagem de um foro privilegiado, a eventual nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o ministério encobre a estratégia de aglutinar dentro do Planalto a defesa do projeto petista.

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O grupo mais próximo de Lula não minimiza a possibilidade de que, ao assumir um cargo no governo, o ex-presidente traga consigo as investigações da Operação Lava Jato do qual ele é alvo. Mas confia que esse pacote incluirá a resistência da militância e dos simpatizantes do PT nas ruas e redes sociais às denúncias de corrupção.

Petistas observam que todas as manifestações dos últimos dias, motivadas pelas apurações chefiadas pelo juiz Sérgio Moro, tiveram como marca a defesa de Lula e não, necessariamente, da presidente Dilma Rousseff ou do governo dela.

Desde o início de 2015, Dilma enfrenta o risco de um impeachment. No primeiro ou no segundo mandato, ela não conseguiu formar um ministério forte. A presença de Lula, na avaliação das lideranças do partido, é o fortalecimento do governo, ainda que o ex-presidente seja um alvo da Justiça e da polícia.

Afinal, não há como negar que Lula ainda tem força política para almejar uma volta em 2018, e essa força, por mais esvaziada que esteja, estará com ele na Esplanada dos Ministérios agora, já. Não à toa que ele conseguiu reunir 20 senadores esta manhã na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para lhes pedir que se manifestem contra a "perseguição" que diz ter sido alvo. Conselho que não deve ser publicamente seguido pelo PMDB, registre-se.

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Um Lula ministro, no entanto, está longe de ser a antecipação do sonhado terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, como já começam a propagar companheiros próximos do ex-presidente. Afinal, o sonho previa uma volta ao Palácio do Planalto sem dramas, com uma economia pacificada e um cenário pronto para a retomada do período 2003 a 2010. Quanto ao orgulho de uma presidente que viverá oficialmente à sombra do padrinho, Dilma vai tirar de letra, observam petistas. Foi a "ministra do Lula" que ganhou as eleições, especialmente a de 2010, e poderia entregar um ministério a ele para preservar o mandato.

Na área econômica, a maior aproximação do PT com Dilma pode trazer, porém, problemas ainda maiores para o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. O ministro colocou nas ruas uma agenda econômica de ajuste fiscal e reequilíbrio das contas públicas que sofre resistências do partido.

O sinal de mudanças no atendimento da pauta petista já pode ser sentido com os anúncios dos últimos dois dias, que incluem maior oferta de crédito pela Caixa, redução de taxas dos financiamentos do BNDES e maior ajuda aos Estados quebrados. Medidas na contramão do ajuste fiscal. Lula era nos últimos meses a principal voz a pedir mudanças na política econômica.

O PT agora pressiona a presidente a adiar a reforma da Previdência, que está no pilar das propostas do ministro. Vai ser difícil Barbosa convencer que o governo busca o ajuste. Com Lula na Esplanada, que anda reclamando da pouca "ousadia" do ministro da Fazenda, então...

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