Numa equação para se equilibrar entre o PSDB e o restante da base aliada, o governo do presidente Michel Temer fez um aceno ao primeiro grupo ao decidir enviar a reforma da Previdência ao Congresso ainda neste mês. A polêmica proposta iria ser encaminhada inicialmente ao Legislativo durante as eleições municipais, mas, diante da pressão dos tucanos, o Palácio do Planalto anunciou a remessa da matéria até o dia 30, uma sexta-feira.
A decisão do Executivo visa a passar a ideia de que o pacote de ajuste econômico é prioridade do governo agora efetivo, contemplando também o desejo do mercado financeiro por mudanças estruturais nas contas públicas.
Daí a matéria ser votada são outros quinhentos. A fala do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de que é "inócua" a decisão do governo de enviar a proposta ecoa publicamente parte do desagrado existente na base aliada. O receio de prejuízos em tema caro na campanha eleitoral é só um dos elementos.
O presidente do PMDB e ministro da Previdência do governo Lula, senador Romero Jucá (RR), era um dos contrários à remessa da matéria em setembro. O ministério da Fazenda não quer que a Previdência atrapalhe a votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do teto do gasto.
Interlocutores de Temer no Congresso avaliam que a matéria só será discutida para valer após as eleições e votada apenas em 2017. Cresce a percepção entre aliados do presidente no Legislativo que o PSDB quer que o presidente faça o chamado "serviço sujo" e impopular das reformas para limpar o terreno para eles governarem futuramente em momento econômico mais favorável. Isso tem incomodado dirigentes da legenda.
Resta saber se o PMDB - uma confederação partidária de interesses às vezes contraditórios - estará disposto a ficar sempre sendo cobrado pelos tucanos.
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