Em conversas com pessoas próximas, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), tem se mostrado preocupado com o que considera "leniência" e "flexibilidade" do governo do presidente em exercício, Michel Temer, no ajuste das contas públicas. Aécio e aliados dele no partido tem se queixado das sucessivas concessões que a gestão interina tem feito nos quase dois meses e meio à frente do Palácio do Planalto.
Em privado, o tucano quer saber do governo qual a real postura a ser adotada: a de coragem de levar adiante as reformas que o País precisa, essa que conta com o apoio do PSDB; ou do governo que, a cada pressão (funcionários públicos, governadores a representantes do Legislativo e Judiciário estaduais), cede.
"É um governo em campanha ou para passar para a história?", questionou Aécio a interlocutores.
Ainda discreto, o ministro das Relações Exteriores, o senador licenciado José Serra (PSDB-SP), tem questionado a política de juro alto com frouxidão fiscal. Os líderes do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), e no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), assim como o ex-presidente do partido e empresário Tasso Jereissati (CE) também têm apontado reservas com a gestão interina.
Ontem, como uma amostra das dificuldades do governo, o projeto de renegociação das dívidas dos Estados foi mais uma vez desfigurado e só deverá ser votado na próxima semana, assim como a revisão da meta fiscal de 2017, quando o Executivo não conseguiu mobilizar a sua base para votar a proposta em sessão do Congresso. O projeto de "venda" da dívida que foi parcelada pelos contribuintes, conhecida como securitização, também ficou para depois, mesmo após os últimos detalhes para a votação no plenário terem sido acertados ontem com o Ministério da Fazenda.
Para Aécio, a preocupação principal do partido não é se Temer será ou não candidato em 2018. O presidente em exercício telefonou no domingo, logo após a entrevista dada ao Estado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que o lançou para um novo mandato no Planalto daqui a dois anos, para dizer que não concorrerá à reeleição.
Ainda assim, o alerta dos tucanos deverá ser passado a Temer em encontro previsto para ocorrer na próxima semana. Por ora, o presidente em exercício deverá contar com o voto de confiança do PSDB - legenda que hesitou em aderir formalmente ao governo - até a votação do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, prevista para ocorrer ainda em agosto.
Superada essa etapa, o partido defende uma "forte agenda" de reformas para dar sinais de compromisso com a gestão pública. Do contrário, poderá iniciar logo um processo de afastamento da gestão Temer.
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