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Pesquisa aplicada no dia a dia (FGV-EESP)

Opinião|Governo Bolsonaro Agrada o Mercado e Assusta o Mundo Político

A agenda econômica do próximo presidente ainda não tira o sono do mercado financeiro já a institucional aterroriza o mundo politico tradicional

Atualização:

*Marcelo Kfoury Muinhos

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Apesar da queda da vantagem do Bolsonaro de 18 para 12 pontos percentuais na última pesquisa Datafolha, é muito difícil que ocorra uma virada histórica. Na verdade, na minha opinião, a onda Bolsonaro, que ocorreu no final do primeiro turno conseguindo ajudar alguns candidatos a governador e também varrer do Senado figuras históricas, é que está perdendo força. Porém, o fator preponderante dessa onda é o anti-petismo e a raiva dos políticos tradicionais, permanecendo esse caráter anti-establishmentque garante a vitória ao capitão reformado..

O mercado financeiro nem sentiu qualquer abalo na sua convicção pro-Bolsonaro com a divulgação da pesquisa Datafolha, prova disso é que o real continua se fortalecendo num dia em que o dólar permanece forte contra as outras moedas. Há um chavão no mercado que diz que contra o fluxo não há argumentos. A vitória do queridinho do mercado pode atrair ainda algum capital, principalmente estrangeiro, podendo ocorrer um "overshooting" da taxa de cambio. Entretanto, ainda vaticino que nos próximos meses uma grande oportunidade para compra de dólar ocorrerá

O grande gargalo da economia é a questão fiscal, sendo urgente equacionar o problema dos gastos da previdência, que têm uma dinâmica explosiva, que engolirá no médio prazo todos os outros gastos e inviabilizará o teto nos juros. Há uma série de propostas de reformas sendo apresentadas. Considero a proposta que quase foi votada no governo Temer suficiente boa para resolver o problema da dinâmica dos gastos.  Entretanto, temo que ao se iniciar uma discussão sobre a proposta contendo a forma de previdência de capitalização, que até pode ser desejável no longo prazo. Nesse tipo de previndencia cada pessoa faz a sua própria poupança.  Porém, o custo de transitar de um regime para outro é muito alto, no curto prazo, o que pode desvirtuar a discussão e não se aprovar nada.

O clima de euforia, medido pelo preço dos ativos, pode contaminar também os indicadores de confiança nas próximas semanas, e com o fim da incerteza sobre as eleições, há expectativa de um surto de crescimento no início de 2019. Esse comportamento da atividade econômica pode não só garantir o crescimento previsto para o PIB de 2019 em 2,5%, como também acelerar a queda do desemprego. Porém, se não ocorrer paralelamente um esforço consistente de aprovação das reformas, será um surto de crescimento de pouco fôlego. Pois o surto de crescimento poderá ser mais uma recuperação cíclica do que uma retomada da produtividade concomitante com um novo ciclo de forte crescimento do crédito das pessoas físicas e jurídicas.

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Em relação a inflação e a taxa de juros, o BCB ganhou tempo com a apreciação cambial recente, e os juros podem ficar estacionados em 6,5% por bastante tempo. Além de não haver pressão inflacionaria no preço dos alimentos, a folga da economia, medida pelo hiato do produto, não pressiona o BCB, que pode continuar a exercendo uma política monetária expansionista no médio prazo. Os únicos riscos para a inflação são a não aprovação das reformas fiscais ou algum problema externo que mude o câmbio fortemente de posição. De qualquer maneira, não há pressão visível para a projeção de inflação, que deve permanecer ao redor da meta de inflação de 4,25% em 2019. 

Concluindo, a agenda econômica do próximo presidente ainda não tira o sono do mercado financeiro. Obviamente, sempre se discute que a agenda liberal está muito calcada no prestigio do futuro ministro da Fazenda Paulo Guedes junto aos seus pares. Contrariamente, as preocupações com outras agendas sociais como a ambientalista, a de direitos humanos, a de inclusão social, a de distribuição da renda despertam maior preocupação. O discurso autoritário e as posições mais sectárias do candidato aterrorizam os seus opositores, que têm forte rejeição ao capitão reformado.

*Professor e Coordenador do Centro Macro Brasil da FGV-EESP

Opinião por mosaicodeeconomia
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