A irresponsabilidade dos bancos centrais

Parece haver atualmente dois tipos de pensadores no mundo dos bancos centrais. De um lado temos as pessoas responsáveis - aquelas que acreditam que devemos aumentar os juros diante do alto desemprego e da inflação cada vez menor porque... bem, é isso que as pessoas responsáveis fazem.

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Por Paul Krugman (The New York Times)
Atualização:

Do outro lado temos as pessoas irresponsáveis, que acreditam que os bancos centrais devem combater tanto a inflação quanto a deflação na tentativa de impedir que o declínio atual se transforme num estado semipermanente de depressão. Haverá limites para o ridículo?

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Na Suécia, meu ex-colega Lars Svensson, agora trabalhando no Riksbank, está preocupado com o desejo de seus colegas de aumentar os juros diante de uma inflação muito abaixo da meta e de uma economia que ainda está longe da recuperação plena. Mas por que deveríamos dar ouvidos a ele? Svensson é apenas um dos maiores especialistas mundiais em economia monetária, dedicando muito de seu tempo ao estudo dos problemas enfrentados pela política monetária diante do limite inferior igual a zero.

Na Grã-Bretanha, Adam Posen, do Comitê de Política Monetária, pede a adoção urgente de medidas adicionais:

Só saberemos se a flexibilização quantitativa e as outras formas de estímulo terão sido suficientes quando houver claros indicadores de que nossas medidas estão alterando as variáveis desejadas - juros do mercado, salários, produção, emprego e expectativas de inflação - suficientemente, no sentido correto e num processo sustentado. Não acho que um banco central possa simplesmente dizer, 'veja, expandimos nosso balanço patrimonial mais do que em qualquer outro momento da história', ou 'fizemos coisas que nunca tínhamos feito antes', e com isso sugerir que já tenhamos feito o bastante ou até demais (não que o Banco da Inglaterra tenha de fato feito muito). Na minha opinião, trata-se de um caso de lógica invertida. Equivale a dizer 'o incêndio deve ter sido apagado, pois já usamos contra ele mais água do que em todos os incêndios anteriores' ou 'já devemos ter chegado ao nosso destino, pois estamos viajando há horas e já usamos um tanque cheio de gasolina'.

Mas por que deveríamos dar ouvidos a ele? Posen é apenas o maior especialista anglo-saxão na década perdida japonesa.

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Ironias à parte, a ascensão do caucus da dor é realmente impressionante - sou um cínico experiente, e nem mesmo eu fui capaz de prever esta. Como destaca Posen, as principais teorias macroeconômicas - que sugerem a necessidade de muito mais estímulo, tanto fiscal quanto monetário - se sustentaram bastante bem nesta crise; acima de tudo, elas fizeram as precisões corretas a respeito da inflação e dos juros, enquanto as doutrinas subjacentes ao caucus da dor se mostraram equivocadas quanto a tudo.

Ainda assim, os "responsáveis" pela política econômica estão rejeitando as teorias que funcionam para favorecer aquelas que dão errado.

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