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A transferência imaculada ataca outra vez

Ó, céus. Por meio de Mark Thoma, vejo que Joe Stiglitz se tornou a nova vítima da doutrina da transferência imaculada:

Por Paul Krugman (The New York Times)
Atualização:

Além das taxas cambiais, muitos outros fatores afetam a balança comercial de um país. Um dos mais determinantes é a poupança nacional. O déficit comercial multilateral dos Estados Unidos não será reduzido de maneira significativa até que os EUA comecem a poupar significativamente mais...

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Está bem, antes de mais nada, é preciso deixar claro que estamos diante do limite inferior igual a zero, com uma economia deprimida. Nessas condições, se uma alta no yuan tornasse as exportações americanas mais competitivas, o déficit comercial americano seria reduzido.

É verdade que isso teria de ser acompanhado por um aumento na poupança - mas este aumento aconteceria precisamente porque a melhoria no comércio levaria a uma expansão econômica, aumentando as rendas particulares (parte das quais seria poupada) e a arrecadação do governo, reduzindo assim o déficit.

Mas o que me impressiona mais é o fato de Joe pensar na poupança como fator independente e determinante na balança comercial. Tentei esclarecer essa questão 23 anos atrás; lá vamos nós outra vez. Imagine que a poupança americana aumente e a poupança chinesa seja reduzida, mantendo constante a taxa de câmbio. Isso reduziria o déficit comercial americano sem consequências dolorosas?

Não, o resultado não seria esse. A maior parte da queda na demanda americana é uma redução na demanda por bens e serviços produzidos nos EUA; a maior parte do aumento na demanda chinesa é uma alta na demanda por bens e serviços produzidos na China.

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Assim, o efeito líquido é a alta no desemprego nos EUA e a criação de pressões inflacionárias na China - a menos que algum fator transfira essa demanda por artigos chineses para os bens americanos. E esse fator deve ser a taxa de câmbio.

Acreditar em algo diferente - acreditar que mudanças na poupança podem evitar a necessidade de ajustes na taxa de câmbio - é cair no que John Williamson, há muito tempo, batizou de doutrina da transferência imaculada. Trata-se de uma falácia sedutora, mas que nem por isso deixa de ser apenas uma falácia.

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