Basicamente, a Hungria está implementando um rigoroso e aparentemente interminável programa de austeridade, ao mesmo tempo em que mantém os juros relativamente altos na tentativa de sustentar sua moeda. Isto, por sua vez, é considerado essencial porque a) a Hungria quer fazer parte da zona do euro, e b) teme-se que uma desvalorização do florim provocaria grandes problemas de endividamento, pois boa parte da dívida do setor privado húngaro é denominada em outras moedas - euros e até francos suíços.
Em relação ao item a), minha pergunta é: a que preço? Quanto ao item b), existe uma grande falácia lógica em toda essa argumentação. Tentei demonstrar isso alguns meses atrás numa atualização do blog na qual falei sobre o caso da Letônia; nas minhas próprias palavras:
Hugh aponta, em particular, para um rombo na lógica daqueles que se opõem à desvalorização. Eles dizem que não podemos desvalorizar porque o setor privado da Letônia está preso a grandes dívidas em euros, e uma desvalorização dificultaria muito o pagamento dos encargos dessas dívidas. Como destaca Hugh, a proposta alternativa - agudos cortes nos salários e basicamente uma imensa deflação doméstica - também dificultaria muito o pagamento desses encargos. Na verdade, eu seria um pouco mais específico do que Hugh: mantidos constantes os demais fatores, uma desvalorização nominal e uma depreciação real obtidas por meio da deflação teriam exatamente este mesmo efeito sobre o pagamento dos encargos da dívida (a menos que parte da dívida seja denominada em lats, e não em euros; neste caso o estrago provocado pela desvalorização seria menor).
Me parece que os acontecimentos estão se repetindo, na primeira vez como tragédia e, na segunda, como outra tragédia.
Não me surpreende que a Hungria queira sair dessa.