Inflação, aqui e acolá

Algumas observações sobre os desdobramentos recentes da inflação.

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Por Paul Krugman (The New York Times)
Atualização:

A inflação é hoje um problema grande e crescente em economias emergentes. Por quê? Ela é a combinação da armadilha de liquidez em economias avançadas com a pouca disposição de países emergentes de  permitirem a valorização de suas moedas.

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A coisa funciona assim: em economias avançadas, o colapso de bolhas imobiliárias e o excesso de dívida acumulado durante a Grande Moderação está levando a uma demanda persistentemente deprimida, apesar da política de taxas de juros muito baixas. O resultado é retornos baixos sobre o investimento; está fora de questão aumentar a capacidade quando não se está usando a capacidade existente.

As economias emergentes, por sua vez, têm muita demanda, em parte porque estão emergindo, em parte porque não compartilham o grande endividamento. Então, o que a economia mundial "quer" fazer é ter grandes fluxos de capital do Norte para o Sul, e, correspondentemente, grandes déficits em conta corrente no mundo emergente - que ajudariam, é claro, as economias avançadas a se recuperarem.

Mas como a doutrina da transferência imaculada é falsa, o mecanismo de transmissão pelo qual fluxos de capitais se traduzem em equilíbrios comerciais precisa envolver um aumento dos preços relativos de bens e serviços produzidos nos países emergentes. A maneira fácil e natural de obter isso seria por meio da valorização da moeda; mas os governos não querem que isso ocorra. Assim, a mão invisível está na verdade obtendo o mesmo resultado - gradualmente - empurrando para cima os preços nominais nesses países.

Vale observar que quando esses governos tentam controlar a inflação espremendo a demanda em vez de deixar que suas moedas subam, eles não estão simplesmente se engajando num esforço eventualmente condenado; estão também ajudando a perpetuar a recessão em países avançados. Bom trabalho a todos.

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Enquanto isso, lá no Norte...

O núcleo da inflação em março ficou mais baixo que o esperado, e muito se tem falado sobre isso. Mas realmente, quando se consideram dados de alta frequência, coisas acontecem. As pessoas que ficaram muito agitadas com um aumento dos preços vendo isso como o prenúncio de uma grande escalada inflacionária, estavam ignorando as lições da história de que altas súbitas da inflação geralmente se revertem sozinhas.

Eu dei de examinar o Billion Price Index (BPI), que se parece bastante com o índice apenas de bens, mas com frequências muito mais altas. E neste momento o índice BBP (Billion Price Project) está claramente indicando que a grande alta dos preços do início de 2011 está desaparecendo:

 Foto: Estadão

E adotando uma perspectiva maior, não se  pode ter uma espiral salário-preço se os salários se recusarem a subir em espiral; e todos indícios são de que os salários estão mantidos baixos pelo alto desemprego, a despeito dos preços de gasolina e alimentos:

 Foto: Estadão

O crescimento salarial não caiu tanto quanto eu esperava alguns anos atrás; agora ficou claro para mim que não dei peso suficiente à literatura sobre salários. Mas não há nada aqui para sugerir alguma razão para considerar a inflação um problema.

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