Invencionices

De acordo com a Bloomberg, as argumentações de Raghuram Rajan são agora mais específicas: ele quer que Bernanke aumente a taxa básica de juros do Fed em 200 pontos-base diante de um desemprego de 9,5% e de uma inflação inferior a 1%.

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Por Paul Krugman (The New York Times)
Atualização:

Tentarei explicar o que é que me incomoda nesse tipo de coisa, além do fato de isso representar um completo desastre para a economia: o problema é que Rajan e muitos outros economistas parecem inventar novas doutrinas para atender à necessidade de justificar seus preconceitos em relação às medidas econômicas.

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Sou totalmente favorável às ideias inovadoras. Mas sou da opinião de que os comentários feitos a respeito da política econômica em qualquer momento devem ter como base algum tipo de modelo - que deve ser válido também para outras situações, e não apenas um exemplo pontual empregado para justificar o favorecimento a uma medida específica no contexto presente.

Os comentários que fiz ao longo desta crise tiveram como base o mesmo modelo de política macroeconômica que costumo usar em períodos de normalidade; o detalhe é que estamos numa situação diferente. A versão rápida e mal-acabada se assemelha ao seguinte:

 Foto: Estadão

Ou seja, mantidos constantes os demais fatores, quanto maior a demanda, menor a taxa real de juros. Será que alguém quer contestar isso? Mas, no momento, graças às consequências da crise financeira, mesmo um juro nominal equivalente a zero, que representa um juro real minimamente negativo, não seria baixo o bastante para proporcionar o pleno emprego.

Em tempos normais, quando o limite inferior zero não representa um impedimento, este paradigma básico sugere que a política monetária convencional seria capaz de desempenhar o papel chave na estabilização. Assim, em tempos normais, sou totalmente a favor de que o Fed assuma o trabalho de administrar o ciclo econômico, propondo uma política fiscal focada no longo prazo.

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Mas, no momento, estamos diante do limite inferior zero; e isso muda tudo.

A ideia de que seria bom se pudéssemos elevar as expectativas de inflação emana desse paradigma minimalista: a economia "quer" um juro real negativo, e a única maneira de proporcionar isso - levando-se em consideração o limite inferior zero - é ter uma expectativa de inflação positiva.

A defesa da expansão fiscal também decorre quase diretamente desta argumentação: se não podemos reduzir o desemprego por meio de cortes nos juros, os gastos deficitários - que não sufocam o gasto do setor privado quando os juros são mantidos - se tornam uma maneira de mobilizar recursos desempregados.

O importante é que não estou inventando isso conforme me convém; tenho uma opinião consistente, que no momento produz resultados pouco ortodoxos simplesmente porque nos encontramos numa situação incomum.

E qual é o modelo seguido por Rajan? Qual é a justificativa para elevar os juros reais diante de um alto desemprego? Como este modelo funcionaria em tempos normais?

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Me parece, obviamente, que muitos daqueles que defendem um aperto monetário partem de um preconceito - eles simplesmente detestam a ideia de dinheiro fácil - e depois procuram algum argumento para defender o próprio preconceito. E não é assim que se faz economia.

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