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Jogos de austeridade aqui e acolá

No início do ano passado, muitos em ambos os lados do Atlântico adotaram a ideia de que menos é mais - que cortes nos gastos na verdade ajudariam a recuperação econômica, em vez de retardá-la. Houve um estudo preparado por Alesina e Ardagna que pareceu apresentar provas disso, e não há garantia maior de sucesso do que dizer às pessoas aquilo que elas querem ouvir.

Foto do author Paul Krugman
Por Paul Krugman
Atualização:

Desde então, todo o edifício intelectual veio abaixo. A metodologia de Alesina e seus colegas mostrou-se profundamente equivocada, coisa que deveria ter sido óbvia desde o início (e já o era para alguns de nós). Os supostos casos de austeridade expansionista, sem exceção, se mostraram péssimos exemplos, seja por envolverem cortes num momento de prosperidade econômica ou situações em que uma acentuada queda nos juros ou depreciação da moeda tinham sido as verdadeiras fontes da expansão.

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Mas, àquela altura, a austeridade expansionista já tinha se tornado a doutrina oficial dos conservadores da Grã-Bretanha (e também do BCE) e do Partido Republicano nos Estados Unidos.

Assim sendo, como estes grupos estão lidando com o colapso de sua doutrina?

Karl Smith destaca que o relatório da Comissão Econômica Mista (JEC) é na verdade ainda mais indecente do que eu tinha percebido da primeira vez em que o li. O documento não chega a dizer que a contração é de fato expansionista; prefere desviar do assunto, dedicando-se a explorar aquilo que poderia ocorrer, transmitindo a impressão de demonstrar um fato enquanto garante para si a possibilidade da negativa, por nunca afirmar diretamente que menos é mais.

Enquanto isso, na Grã Bretanha, Yves Smith nos mostra que as pessoas têm investigado os detalhes das previsões do governo, descobrindo com isso que estas dependem da suposição de que o endividamento dos lares vai atingir novos patamares em relação à renda:

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 Foto: Estadão

Por quê? O motivo é que a economia só poderá evitar os efeitos negativos dos cortes do governo se os gastos particulares aumentarem para preencher o vácuo - e, apesar de raramente vermos os defensores da austeridade admitindo isso, a única maneira de isso ocorrer é se as pessoas se endividarem mais. Assim, vemos o espetáculo do governo que condena os males do endividamento depositando todas as suas esperanças na suposição de que os lares já excessivamente endividados cavarão seu buraco ainda mais fundo.

Tomado em conjunto, trata-se de um espetáculo notável. Seria até engraçado, se não fosse pelo fato de milhões de pessoas pagarem com seu sofrimento o custo desta insensatez.

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