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José Vicente Caixeta Filho

Excessivas perdas para a agricultura brasileira

As estatísticas sobre perdas variam, de acordo com a fonte, com a causa e com o método adotado para mensurá-las. A situação brasileira, em termos de perdas, não é muito diferente das situações de outros países sub-desenvolvidos ou em desenvolvimento. Elas contabilizam, em termos gerais, por algo em torno de 30%, chegando a atingir taxas entre 80 e 100% para produtos mais perecíveis, tais como algumas frutas, verduras e legumes.

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Por Jose Vicente Caixeta Filho
Atualização:

Rodovias: gargalo logístico antigo ( Foto: Estadão)

"As estradas estão em situação caótica, os portos são caros e ineficientes, a malha ferroviária tem apenas mais dois meses de sobrevida".  Odacir Klein, Ministro dos Transportes, em "O Estado de São Paulo", 02/05/95.

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O problema é antigo e recorrente...

A modalidade de transporte a ser utilizada implica padrão de consumo de energia, o qual pode ser adequado ou não para o transporte de certas mercadorias. Transporte rodoviário, através de caminhões, graças à sua velocidade e flexibilidade, observa uma série de vantagens sobre o transporte ferroviário e hidroviário de certos produtos; por outro lado, o baixo custo de transporte por barcaças em hidrovias torna essa modalidade atrativa, principalmente para cargas a granel que não necessariamente dependam de meios de transporte que fluam a altas velocidades.

Na maior parte dos países em desenvolvimento, existe uma predominância do modo de transporte rodoviário. Entretanto, o aumento na utilização de outras modalidades pode ser observada.

O transporte ferroviário e hidroviário vêm ganhando importância relativa com o aumento dos custos de energia. Tais modalidades requerem não apenas menores taxas de energia por t/km, assim como menores custos de manutenção. Entretanto, tais modalidades de transporte raramente têm condição de transportar produtos agrícolas até o seu destino final - normalmente demandam operações de transbordo rodoviário - o que dificulta a sua competitividade em jornadas de curta e média distâncias.

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Com relação ao desenvolvimento do transporte hidroviário, ressalte-se que ele vem sendo limitado pela falta dos investimentos necessários para tornar os rios navegáveis. Além disso, as flutuações dos níveis dos rios podem comprometer a utilização de equipamentos de transporte.

Em termos do transporte ferroviário, um de seus maiores problemas diz respeito à sua estrutura de governança e de precificação de fretes. Além disso, as inadequadas condições de muitos dos equipamentos ferroviários vêm sendo responsáveis pelas excessivas perdas de produtos, pelo aumento dos tempos de carga e descarga, e pela diminuição da capacidade efetiva de carga de comboios ferroviários.

Note-se também que uma série de trechos ferroviários vêm sendo desativados não somente por questões de inviabilidade técnica mas sobretudo por questões operacionais. Em muitos casos, sistemas ferroviários operam a custos extremamente altos, só podendo ser mais competitivos se desfrutarem de alta carga de subsídios governamentais.

O transporte aéreo também aparece como uma opção de modalidade de transporte para produtos agrícolas. Oferece como principal vantagem comparativa o seu tempo de viagem bastante reduzido, o que favorece a manutenção da qualidade de produtos de alta perecibilidade. Entretanto, devido ao seu elevado custo operacional, não vem sendo uma opção popular para o sistema agroalimentar, principalmente em termos de transações ao nível de mercado interno de países em desenvolvimento.

De qualquer forma, uma das grandes vantagens do transporte terrestre para produtos agrícolas diz respeito à possibilidade de controle de temperatura, principalmente para situações em que o tempo em trânsito possa se estender por várias semanas. As maiores exigências em termos de embalagem requerida são justificáveis, devido ao eventual tempo excessivo em trânsito, às altas taxas de umidade e às grandes alturas de empilhamento.

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Em países em desenvolvimento, onde o custo da mão-de-obra é baixo e os custos de investimento e manutenção são altos, a necessidade por equipamentos de transporte especializados precisa ser bem fundamentada. Ainda, devido a esse nível de especialização do equipamento de transporte, é normalmente dificultada a programação que envolva, por exemplo, fretes de retorno adequados, ou mesmo a utilização daqueles veículos para fins alternativos.

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Embalagem e transporte são componentes logísticos intimamente relacionados. Tome-se como exemplo a situação onde os mercados são distantes, estradas em precárias condições ou ainda envolvendo serviços de transporte não confiáveis: as exigências impostas na durabilidade da embalagem, assim como em sua capacidade de preservação do produto, certamente serão intensificadas. Portanto, a escolha correta dos tipos de embalagem a serem usados pode influenciar na eventual perda durante o transporte de produtos agrícolas.

Há uma série de situações em que ficam claras a ineficiência e/ou inadequação de padrões de embalagem para produtos alimentícios, particularmente legumes e frutas frescas. Espera-se que, através de padronização de embalagens, um aumento na eficiência de fluxos intermodais de gêneros alimentícios possa ser obtida, facilitando portanto a movimentação de mercadorias através de modalidades de transporte distintas.

Entretanto, se a introdução de novos padrões de embalagem não resultar em maiores receitas, naturalmente tais alternativas não poderão ser consideradas economicamente viáveis. O uso de embalagem por si só já representa um valor adicional no preço final do produto, o que pode vir a comprometer a competitividade de produtos bem embalados, de maior qualidade (e mais caros) em regiões de população de baixa renda, onde a regra de decisão pela compra normalmente privilegia as mercadorias que sejam mais baratas.

Para graneis sólidos, por exemplo, para cobrir os mais de 1.100 km entre Campo Grande e São Paulo, uma carreta de soja leva 15 horas, contra 7 dias de transporte ferroviário. No caso, a opção pelo transporte rodoviário vem sendo feita facilmente, determinada basicamente pela disponibilidade do meio de transporte. Consequência lógica desse retrato desolador: os tempos de viagem tendem a aumentar e, da mesma forma, as respectivas perdas.

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Note-se também que as perdas durante o transporte estão frequentemente relacionadas às condições sazonais. Por exemplo, durante estações chuvosas, fica dificultada a movimentação da produção a partir do campo e, se o transporte eventualmente ocorrer, outras dificuldades podem advir, tais como atrasos, acidentes, etc.. Portanto, o descaso à manutenção de estradas não somente desencoraja a produção voltada ao mercado mas também influencia o aumento dos custos de transporte e, consequentemente, os preços a serem pagos pelo consumidor. Além disso, o transporte de frutas, verduras e legumes sob altas temperaturas é praticamente inevitável em países tropicais, tal como o Brasil, o que contribui também para a aceleração da deterioração desses produtos.

As estatísticas sobre perdas variam, de acordo com a fonte, com a causa e com o método adotado para mensurá-las. A situação brasileira, em termos de perdas, não é muito diferente das situações de outros países sub-desenvolvidos ou em desenvolvimento. Elas contabilizam, em termos gerais, por algo em torno de 30%, chegando a atingir taxas entre 80 e 100% para produtos mais perecíveis, tais como algumas frutas, verduras e legumes.

Assim sendo, se a logística envolvida não vier a ser bem dimensionada e a mais adequada, aumento de perdas físicas pode ser observado. E isso repercutir cada vez mais nos preços pagos pelo consumidor.

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