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Opinião|A distante realidade da igualdade de gênero

Diferença salarial entre homens e mulheres em cargos executivos pode chegar a 50%

Atualização:

Sylvia Bellio. Foto: Adriana Bernardes

Na próxima quinta-feira, Dia Internacional da Mulher, países como Islândia, Noruega, Finlândia e Nicarágua estão entre os mais igualitários quando a questão é igualdade entre homens e mulheres, de acordo com o Índice Global de Desigualdade de Gênero 2017, apresentado no Fórum Econômico Mundial. O índice classifica 144 nações com base em quão perto estão de alcançar isonomia entre os sexos.

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O estudo investiga quatro pilares: participação econômica e oportunidade, acesso à educação, saúde e sobrevivência e empoderamento político. O primeiro pilar, que inclui a igualdade salarial, aponta que nenhum país eliminou a brecha que separa homens e mulheres, mas 13 deles avançaram cerca de 80%.

Conforme o relatório, a previsão é de que se demore 100 anos para reduzir a diferença geral de gênero em todos os países do ranking. Avaliando somente o aspecto econômico, a previsão é de que só haverá igualdade dentro de 217 anos.

Estudo da consultoria McKinsey aponta que companhias com maior diversidade de gênero e etnia têm entre 15% e 35% mais probabilidade de superar os concorrentes, respectivamente. Mesmo assim, a desigualdade ainda é uma realidade. Dos 144 países avaliados, o Brasil ocupa o 90º lugar, atrás de Argentina (34º), Peru (48º) e Venezuela (60º).

Em relação à igualdade salarial, o Brasil está na 129ª posição, sendo a diferença entre homens e mulheres em cargos executivos superior a 50%. Países como Irã e Arábia Saudita, conhecidos por violar direitos femininos, têm melhor posição.

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A constatação é reforçada pela última Pesquisa Nacional por Amostra de domicílio (Pnad), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aponta que as brasileiras ganham, em média, 73,7% do salário pago aos homens.

Mercado. O cenário desanimador não impede que mulheres alcancem posição de destaque nas corporações, até mesmo na área tecnológica, notadamente dominada por homens. CEO da It Line Technology, canal de vendas da Dell EMC no Brasil, Sylvia Bellio é a única mulher a compor o conselho das empresas parceiras da Dell no País.

"Quando fiz o curso de tecnologia, há cerca de 20 anos, o ambiente até podia ser um pouco hostil, mas eu não percebia, porque minha mãe me ensinou que não há distinção entre homens e mulheres e que eu deveria batalhar com igualdade pelos meus objetivos", conta.

Sylvia relembra o caso de um cliente que durante uma reunião ficou incomodado pela ausência de um técnico do sexo masculino. "Nessas ocasiões, é importante como a mulher reage à discriminação. Eu costumo provar com trabalho, competência e dedicação o porquê ocupo essa posição. É importante demonstrar conhecimento e lastro para gerar credibilidade."

A executiva acredita que o mercado tem reagido ao preconceito, incluindo a questão salarial, mesmo estando distante do ponto de equilíbrio.

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"A força de vendas de nossa empresa na região Sul tem apenas presença de homens, em compensação, no escritório de vendas de São Paulo a esmagadora maioria é de mulheres. Não há preferência por gênero, depende apenas de competência e qualificação. Não fazemos distinção salarial por causa do sexo."

Segundo ela, se as mulheres conseguem trabalhar sentindo cólica, podem ser mães e realizar uma infinidade de coisas, por que não poderiam ser CEOs de uma empresa de tecnologia? "Hoje, existem muitas mulheres trabalhando na área tecnológica. Estamos eliminando a resistência que havia por parte de algumas pessoas."

Yolanda Castro. Foto: Júnior de Castro/Divulgação

Na Samba Tech, distribuidora de vídeos online para a América Latina, o cargo de CIO (diretora de TI) é ocupado por Yolanda Castro. Formada em ciência da computação e com passagens pela Zunnit, IBM e Oi, a executiva teve de estudar muito para crescer na carreira.

"Quando entrei na faculdade, a escolha por uma área predominantemente masculina me fascinava, porque queria me destacar e provar que as meninas também podem ser incríveis em ciências exatas. Mas depois dos primeiros meses de aula entendi que não era tão simples assim, pois para que sejamos consideradas boas em áreas 'masculinas', temos de ser bem acima da média."

Segundo ela, o cargo que ocupa atualmente é um sinal de que algo está mudando em relação às desigualdades. "É incrível ver que estamos cada vez mais empoderadas. Hoje, nossa situação é melhor que há cinco anos. Mas falta muito para termos igualdade de fato. Isso ainda é um privilégio concentrado em algumas regiões e setores específicos da sociedade."

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Cultura organizacional é fator determinante

Segundo a coach de carreira e especialista em psicologia positiva Renata Abreu, autora do livro Felicidade feminina: uma escolha possível com práticas da psicologia positiva, traços da personalidade feminina são barreiras para a carreira, caso não sejam bem administrados.

Renata Abreu. Foto: Miguel Sá/Divulgação

"O perfeccionismo e a autocrítica são características comuns do sexo feminino. Enquanto homens atribuem as próprias falhas a fatores externos, as mulheres tendem a internalizar os próprios erros, potencializando o sentimento de culpa. Esse aspecto, porém, é apenas uma das razões para que elas estejam tão longe de se equiparar ao número de homens em cargos de liderança."

Renata diz que um bom exemplo é que as comparações entre os dois sexos ainda são comuns no ambiente corporativo e o comportamento feminino é mais criticado quando comparado com o gênero oposto.

"Um exemplo típico é o da assertividade, que costuma ser elogiada nos homens e vista como tendência ao autoritarismo no caso das executivas. A cultura corporativa tem papel crucial para desenvolver a diversidade entre homens e mulheres e estimular a confiança do sexo feminino para alcançar seus objetivos na carreira", recomenda Renata.

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Estímulo. A consultoria global de negócios Bain & Company, em parceria com o LinkedIn, desenvolveu a pesquisa Charting the Course: Getting Women To the Top, que analisou o comportamento de homens e mulheres na trajetória aos cargos de liderança.

De acordo com os dados, mesmo tendo entre cinco e 15 anos de experiência, as mulheres estão em desvantagem quando o quesito é motivação: 56% delas demonstram interesse em ocupar posições de chefia, enquanto o índice dos homens é de 64%.

Luciana Batista. Foto: Gladstone Campos/Divulgação

A diferença aumenta para 11 pontos porcentuais a favor deles quando se trata de autoconfiança: 57% das mulheres acreditam que conseguirão ocupar um cargo de liderança versus 66% dos homens.

Sócia da Bain & Company, Luciana Batista, diz que as mulheres até podem se sentir menos confiantes e motivadas ao longo da carreira, conforme mostra a pesquisa. "Mas este cenário é revertido quando os gestores se empenham no estímulo ao crescimento destas profissionais. Esse posicionamento faz a diferença e serve de incentivo para que elas cheguem à liderança."

Opinião por Cris Olivette
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