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Opinião|À espera de concurso público, recém-formados criam 'pré-carreira'

Concurseiros compartilham rotina de estudos em redes sociais e garantem renda extra temporária, enquanto estudam

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Especial para o Estado

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Uma carreira no serviço público é o sonho de muitos brasileiros, mas a jornada até a nomeação em um concurso não costuma ser fácil. Em meio à expectativa pela divulgação de editais, escolhas de cursinhos preparatórios e melhores métodos de estudos, concurseiros encontram nas redes sociais a possibilidade de desenvolver uma espécie de "pré-carreira" e garantir uma renda extra que ajuda a custear os estudos.

"Nunca imaginei que se tornaria um negócio, a intenção sempre foi trocar experiência, buscar e oferecer motivação para essa caminhada", diz a concurseira cearense Letícia Lima Verde, de 24 anos. No ano passado, prestes a concluir a faculdade de direito, ela já sabia que teria de encarar uma rotina pesada de estudos para se tornar juíza do Trabalho. Começou a seguir perfis de estudantes e professores no Instagram e, logo, decidiu criar uma conta para os estudos, a Meta de uma Concurseira, que hoje tem 18,5 mil seguidores no Instagram.

Letícia não estava sozinha. A jornada diária era dividida com a amiga Taís Militão, de 25 anos, que compartilhava o sonho de ser juíza do Trabalho e que também decidiu usar o Instagram como um incentivo para os estudos. A sua conta, No Ritmo Concurseiro, tem hoje 8,8 mil seguidores.

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Priscila Groti, que vende material de estudos enquanto espera posse em tribunal de São Paulo. Foto: Felipe Rau/Estadão

As duas passaram a estudar juntas, produzindo resumos e apostilas, e a partir daí começaram a postar o método de estudo nas redes sociais. Foi o que chamou a atenção dos seguidores e marcas. "Muitas pessoas vieram comentar e perguntar se a gente disponibilizava a apostila. Então, decidimos começar a vender", conta Letícia.

A princípio, as vendas eram feitas pelo próprio Instagram, mas dois meses depois a demanda começou a interferir nos estudos e elas automatizaram o serviço.

Pelo site novo, MR Concurseiras, elas vendem mais de 40 apostilas (de R$ 6 a R$ 40) sobre temas que vão da Constituição Federal a legislações específicas. Elas também oferecem conteúdos gratuitos, como tabelas para controle de questões e calendários de informativos do Supremo Tribunal Federal (STF).

Taís ainda divide a rotina de concurseira com a de professora de inglês em um curso de idiomas, para conseguir bancar os estudos. "Estudar para concurso é caro, são muitos cursinhos, materiais e livros que vão atualizando."

Carreira no serviço público

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O concurso é a única porta de entrada para uma carreira jurídica no serviço público, para ser juiz ou procurador, por exemplo. Por isso, segundo Roberto Dias, coordenador da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, os concursos jurídicos "cobram uma gama enorme de conteúdo e, portanto, exigem um estudo bastante focado".

Atualmente, segundo o Estratégia Concursos (uma das maiores plataformas de venda de cursos preparatórios para concursos no Brasil), há 79 editais abertos com 13.525 vagas para os mais variados cargos e áreas. Mas o cenário futuro é incerto, já que em junho o presidente Jair Bolsonaro afirmou que dificilmente haverá concursos públicos no Brasil em 2020.

Post da conta Lucy Concurseira, de Priscila Groti. Foto: Reprodução

Além disso, se o caminho até a aprovação no concurso é longo, o da aprovação até a nomeação também pode ser. A paulista Priscila Groti, do perfil Lucy Concurseira, de 34 anos, espera há cerca de dois anos pela posse no cargo de escrevente do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Após ver seu nome na lista dos aprovados, começou a vender materiais de estudos para os seguidores que conquistou enquanto ainda era concurseira. Hoje, tem 28,5 mil seguidores no Instagram.

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Groti disse que enxergou uma lacuna no mercado: a de um banco maior de questões que ajudem os concurseiros a memorizar o conteúdo. Assim, aliou sua formação em Letras à legislação que já tinha aprendido e, com isso, elaborou milhares de questões que são vendidas em seu site. Os pacotes de exercícios - que vão de português a tópicos para a prova do Tribunal de Justiça de São Paulo - custam de R$ 5 a R$ 100.

Interesse das marcas

Além de lucrar com a venda direta ao cliente, as concurseiras chamam a atenção de empresas das áreas de papelaria e de cursos preparatórios, que propõem parcerias, permutas e publicação de posts patrocinados.

As amigas Letícia Lima Verde e Taís Militão, que estudam juntas. Foto: Arquivo Pessoal

Letícia costuma fechar parcerias pagas, mas diz que já recusou várias propostas por não conhecer os produtos que a marca queria vender. Ela diz ainda que é preciso saber administrar o negócio com os estudos.

"É comum você ver perfis que viram praticamente uma árvore de dinheiro. A pessoa perde o foco e as postagens viram só ofertas de cupons de desconto para coisas que a pessoa nunca usou", diz Letícia. Priscila também faz um alerta. "Tem gente que quer se aproveitar da sua quantidade de seguidores. Se você for indicar alguma coisa, tem que indicar algo em que você confie."

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Opinião por Carla Menezes
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