Há muitos anos escutei em um evento a seguinte frase atribuída à Jack Welch: "Se você não está confuso, você não sabe o que está acontecendo". Parafraseando o renomado executivo e guru empresarial, eu digo com relação ao ambiente e à sustentabilidade: "Se você não está preocupado, você não sabe o que está acontecendo".
Os últimos acontecimentos no Brasil e no mundo não deixam dúvidas de que a situação é alarmante. Não é coisa de lunáticos ou baderneiros. O problema é grave e urgente!
No livro Sustentabilidade planetária, onde eu entro nisso? (Terra Virgem Editora, 2013), o autor Fabio Feldmann coloca com veemência: "Progresso? Chaminés e veículos, símbolos do século 20, agora mostram o terrível outro lado da moeda: o aquecimento global".
Mais adiante continua: "Estamos deixando a nossa marca, assim na terra como no céu. Hoje não temos mais dúvidas de que o planeta está se aquecendo devido a um claro processo de mudanças climáticas. Nem de que essas mudanças são resultado da ação humana".
O livro também traz uma "lista quente" com 10 problemas que teremos que enfrentar no Brasil e no mundo se o planeta se aquecer demais. Tudo parece bem familiar e próximo da nossa realidade:
- Alteração do regime das chuvas: enchentes em alguns lugares, secas em outros
- Queda de produtividade agrícola
- Aumento do número de refugiados ambientais, tanto das secas como das enchentes
- Escassez de água potável e necessidade de racionamento
- Calor mais intenso nas cidades
- Furacões mais fortes, tornados, ventanias
- Elevação dos níveis dos mares
- Perda galopante de espécies e devastação dos ecossistemas
- Aumento da incidência de doenças infecciosas
- Aumento da incidência de doenças transmissíveis por insetos.
Pois é... Dispensam-se comentários, não? Quantas situações de emergência, quando o perigo à vida é uma ameaça imediata, não temos presenciado?
Peter Kalmus, cientista atmosférico do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, na Califórnia (EUA), escreveu o livro Ser a mudança: viva bem e deflagre uma revolução climática (Being the change: live well and spark a climate revolution. New Society Publishers, 2017), abordando com seriedade e profundidade a mudança climática e a forte resistência à diminuição das emissões de carbono devido à percepção de que, ao fazê-lo, isso resultaria num golpe terrível para a economia mundial.
Na visão do cientista, o sistema capitalista pode (e deve) coexistir com uma pegada de carbono menor. Ele inclusive baseia-se no que fez em sua vida pessoal para ter um impacto mais positivo sobre o ambiente. Nas palavras do autor: "Era o ano de 2010 e quanto mais papers científicos eu lia sobre o aquecimento global, mais eu me preocupava. Pensei então de que maneira minhas ações estavam se traduzindo em emissões de carbono e me dei conta de que uma das coisas que eu fazia e que mais contribuía para a emissão de carbono era voar muito. Acadêmicos voam demais: participam de reuniões colaborativas, vão a congressos. Voar representava 75% das minhas emissões. Sabia que não importava o que eu fizesse - podia parar de comer carne, andar bastante de bicicleta - nada realmente faria diferença enquanto eu continuasse a voar exageradamente. Eu entrava no avião e pensava que estaria mais feliz se não estivesse ali. Aos poucos, fui parando de voar. Procuro fazer bem meu trabalho, escrever bons estudos, participo de congressos regionais e prefiro, quando possível, as videoconferências"
E dá dicas preciosas a respeito: "Além da opção pela redução individual voluntária, são necessárias também ações sistemáticas, sistêmicas e coletivas. É fundamental (e possível) ter uma cultura capitalista bem-sucedida e ainda assim imprimir a mudança necessária para lidar com firmeza com a mudança climática", enfatiza Kalmus.
Apontam os estudos que a geração Z ou os centennials (nascida entre 1996 e 2010), que hoje tem entre 9 e 23 anos, possui dentre outras características a preocupação com o ecossistema, com a sustentabilidade e com os recursos naturais, e seu lema é: "Nós vamos mudar o mundo!" Tomara que consigam e que as gerações anteriores também se sensibilizem e colaborem!
No mercado de trabalho
Coerente com seu tempo e consciente sobre a relevância do assunto, a ex-aluna Clara Castro de Moraz, do curso de graduação em administração da Faculdade FIA de Administração de Negócios, abordou em seu trabalho de conclusão de curso (de 2018) a temática: "Educação corporativa e o desenvolvimento de competências para a sustentabilidade: Um estudo de casos de empresas do setor elétrico no Brasil".
Não pretendo tratar dos objetivos, métodos e resultados do trabalho, mas julgo oportuno resgatar o mapeamento das competências individuais requeridas para a sustentabilidade realizado pela autora com base na revisão bibliográfica. São elas: pensamento sistêmico, visão de longo prazo, prontidão à mudança, inovação para a sustentabilidade, pensamento crítico, autoconhecimento, liderança para sustentabilidade, colaboração, cooperação, valorização do diálogo/comunicação e diversidade.
Daí pergunto, caro leitor: você conhece os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da cartilha do desenvolvimento sustentável defendida e assinada por 193 países, incluindo o Brasil, nas Nações Unidas em 2015, para a Agenda 2030?
O que você tem feito na esfera pessoal ou profissional para ter uma atuação mais sustentável? Está consciente sobre essas competências para a sustentabilidade, que serão cada vez mais importantes para o êxito na sua carreira? Já pensou nas metodologias de aprendizagem mais adequadas para desenvolvê-las? Pois então, mãos à obra! O nosso planeta pede urgência, para que ela não se transforme em emergência se não for resolvida rapidamente.
* Marisa Eboli é doutora em administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP e especialista em educação corporativa. É professora da graduação e do mestrado profissional da Fundação Instituto de Administração (FIA). (meboli@usp.br)