Tiago Mavichian
14 de setembro de 2021 | 10h10
Se você está se preparando para uma entrevista de estágio, é praxe: terá de três a cinco minutos para se apresentar ao recrutador. Parece simples, né? Uma hora antes, você repassa os detalhes da própria história e faz um mapa mental dos assuntos que irá abordar. Pensa algo sobre a vida familiar, elabora uma explicação sobre a escolha da faculdade, lembra daquele curso que fez meses atrás e mentaliza o porquê quer estagiar na empresa. “Na hora, eu vejo o que faço”, fala a si mesmo, confiante de que vai dar tudo certo. Quando chega sua vez, você se atrapalha, esquece datas e nomes, perde-se em narrativas sem importância.
Nem preciso dizer como termina esse processo seletivo — e ainda bem que ele não é real. Tenho certeza de que você não quer passar por isso, mas, se não fizer nada, achando que consegue improvisar, você corre o risco de tornar esta a sua história. Um único gestor pode avaliar até 15 candidatos. Muitos ou poucos, a verdade é que apenas um ou dois irão se destacar. E são eles que serão lembrados.
Gosto de uma frase do escritor Neil Gaiman, que diz: “Histórias lidas no momento certo jamais o abandonam. Você pode esquecer o autor ou o título. Pode até não lembrar precisamente o que aconteceu. Mas, se você se identifica com uma história, ela continua com você para sempre”. É disso que estou falando, da possibilidade de deixar sua marca com aquilo que faz você único: sua história de vida.
Na entrevista com o recrutador, você precisa contar sua história de modo a ser lembrado depois, pois o recrutador vai ter poucos minutos com muita gente. Foto: Unsplash/@Christina Wocintechchat.com
Antes de prosseguir, deixo aqui um questionamento: quem você quer ser na entrevista de estágio? O candidato que faz uma apresentação mediana, cria um discurso comum e, no minuto seguinte, é esquecido? Ou aquele que vai chamar a atenção a ponto de guardarem seu nome e detalhes apresentados na conversa?
Sendo presencial, olhe nos olhos do recrutador. No processo on-line, procure olhar para a câmera e não para a tela. Esse é o primeiro passo para criar conexão. Pessoas que desviam muito o olhar quando falam podem transmitir insegurança ou, pior, desconfiança. E tudo o que você precisa passar para o gestor é sinceridade no seu discurso.
Tenha na ponta da língua o nome, a duração e o ano do curso mencionado. Nada pior do que mandar um “Fiz um curso muito legal… não lembro o nome agora, acho que no ano passado ou retrasado” ou “Li um livro muito interessante nesse tema…. é… me fugiu o nome”.
Não tenha preguiça de ensaiar. Pode ser gravando um vídeo para analisar o que ficou ótimo e o que dá para melhorar. Vale até pedir para alguém da família ou um amigo assistir à gravação e opinar. Isso é se preparar de verdade.
Tenha cuidado ao falar dos problemas pessoais ou situações da vida que fogem ao controle. Contar sobre uma dificuldade financeira sem oferecer um contexto pode passar uma mensagem equivocada. Apesar de ser realidade, pode não ser o melhor argumento para convencer alguém. Você pode incorporar fatos à história. Veja os dois jeitos de contar:
Observe que é a mesma história, mas na segunda frase o candidato foi além, demonstrando ser uma pessoa esforçada e comprometida com o bem-estar da família. É dessa forma que se cria conexão genuína, permitindo que o recrutador lembre de você. Siga assim e, se não for contratado nesse processo, certamente será no próximo!
* Tiago Mavichian é CEO e fundador da Companhia de Estágios, startup de RH especializada em seleção e desenvolvimento de aprendizes, estagiários e trainees. Pós-graduado em gestão de pessoas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, possui mais de 18 anos de experiência na área de RH.
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