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Informação para sua carreira

Opinião|Como o esporte contribui para uma gestão inovadora da carreira

Disciplina e foco são aprendizados levados de esportes como natação; confira quatro características para promover uma cultura organizacional colaborativa

Atualização:

A piscina foi minha primeira escola de gestão. Comecei a nadar cedo e fui atleta de alta performance dos 7 aos 18 anos. Participava de campeonatos com frequência e hoje percebo que minha liderança é reflexo do que aprendi nesse ambiente competitivo -- mas ao mesmo tempo colaborativo. Aos 18, tive que tomar a primeira grande decisão da minha carreira: continuar competindo e buscar novos títulos e Olimpíadas ou colocar em prática o que aprendi no curso técnico. Após muita reflexão, cheguei à conclusão de que a natação tinha me dado toda a base para encarar um novo ciclo. 

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Essa transição não foi instantânea. Durante quatro anos, cursei processamento de dados e lembro até hoje o que pensei no dia em que minha mãe me inscreveu para o vestibular da Federal: "Vou passar nessa prova e, quando completar 18 anos, terei a oportunidade de ganhar dinheiro com esse curso ou seguir nadando". Foi aí que vi o poder do planejamento de carreira, de ter a visão do que deseja. De se preparar para a mudança e ter a coragem de encerrar um ciclo, para começar um novo de peito aberto e feliz. 

Atualmente, duas décadas depois, ocupo o cargo diretor de marketing, gerenciando um time de mais de 100 pessoas. Com relação aos aprendizados, o esporte me ensinou a ter foco, disciplina e resiliência, comportamentos que me ajudaram a avançar na carreira. Minha vontade de chegar cada vez mais longe sempre me motivou a treinar para melhorar os resultados e conquistar medalhas -- nas piscinas e na empresa. 

A natação também me deu ferramentas para criar uma gestão inovadora, promovendo um ambiente saudável e o crescimento de quem está ao meu redor. Hoje, dou mergulhos no mar de possibilidades que o marketing e a inovação oferecem aos nossos clientes. É meu papel montar um time no qual as pessoas tenham prazer de estar e possam se expressar, para que embarquem comigo nessa jornada e entreguem os resultados que idealizamos.

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Natação trouxe aprendizados como disciplina e resiliência; na foto, a nadadora Maria Carolina Santiago, medalha de ouro nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2021. Foto: Wander Roberto/CPB

Refletindo sobre isso, reuni quatro características fundamentais para promover uma cultura organizacional colaborativa, que aprendi no esporte e que hoje levo para o mundo corporativo. 

1. Confie nos talentos

Quando nadava, eu me inspirava em treinadores que confiavam no talento dos atletas. Eles nos diziam palavras de apoio com frequência e nos davam liberdade - afinal, é seu objetivo e não o deles somente. Quantas vezes precisei cair na piscina com água gelada e de madrugada, para treinar sem o técnico ao meu lado e nem por isso deixei de fazer o meu treino. No final, se você deixa de fazer a sua parte, está se sabotando. O técnico tinha a confiança de que eu iria cumprir a minha parte, fazendo valer aquele tempo de dedicação. 

Por isso, minha recomendação é que você monte um time de "atletas" e dê espaço para eles voarem. Atue mais como orientador e facilitador, não na microgestão. Busco fazer o mesmo com quem trabalha comigo. Acredito em todos os que fazem parte da minha equipe. Divido a mesa (ou as telas, nesses tempos de pandemia) com gente talentosa e que me inspira a ser melhor. Acredito que bons resultados dependem de pessoas. 

Quando o gestor contrata profissionais competentes e nos quais confia, seu trabalho fica mais fácil. Sem precisar de regras excessivas, complexas ou burocráticas, cada um assume sua responsabilidade, cuida de sua parte no todo e a equipe funciona sincronizada como uma orquestra. Uma empresa que deseja uma gestão inovadora não pode ser baseada em imposições, que apenas desmotivam. Com autonomia, as pessoas fazem o seu melhor e, juntas, dão show de criatividade e eficiência. 

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Este ano, li o livro A Regra é Não Ter Regras: A Netflix e a Cultura da Reinvenção, que deu ainda mais forma a esse conceito. O autor, Reed Hastings, fundador e CEO da Netflix, escreve sobre a importância de estruturar um ambiente livre para estimular a criatividade e a inovação. Ele até deu um nome para o modelo: F&R, sigla de freedom and responsibility (em português, liberdade com responsabilidade). 

"Nossa cultura -- focada em alcançar o melhor desempenho com a densidade de talento e em liderar as nossas equipes com contexto em vez de controle -- nos permitiu crescer e mudar continuamente à medida que o mundo e as necessidades de nossos assinantes se transformavam à nossa volta", conta Hastings na publicação.

A combinação de confiança e liberdade garante resultados melhores para qualquer time. Quando o gestor dá espaço para os profissionais, eles são capazes de entregar soluções inspiradoras. 

2. Dê feedbacks 

Construir um time pautado pela confiança é uma tarefa desafiadora, que requer muito exercício e conversa. Um fator fundamental é praticar a sinceridade. 

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Devemos dizer quando gostamos - ou não - de algo. Fazendo uma analogia com a carreira de atleta, a minha evolução dependia do feedback constante do meu técnico. Ele berrava quando eu superava meu tempo, mas dava aquele feedback quando cometia erros -- sempre me estimulando e lembrando que eu era capaz de fazer melhor. 

Os feedbacks que recebemos são a base de nossa evolução -- e precisamos tanto de críticas quanto de elogios para que ela fique sólida e estável. Considero que o ambiente de trabalho ideal é aquele em que colegas e líderes dizem quando você faz algo certo e quando é preciso melhorar de um jeito sincero, aberto e em tom de conversa. 

Uma pesquisa publicada na Harvard Business Review pelas pesquisadoras norte-americanas Gretchen Spreitzer e Christine Porath concluiu que feedbacks dão energia para o desenvolvimento e aprendizado dos funcionários. E quanto mais direta é a avaliação, mais útil será para o colaborador. 

3. Permita o erro

"Fracasso e inovação são gêmeos inseparáveis. Para inventar, você tem que experimentar. Se você souber antecipadamente que vai funcionar, não é um experimento". Essa frase está no livro As Cartas de Bezos, elaborado a partir dos textos escritos por Jeff Bezos aos acionistas da Amazon.

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Assim como ele, acredito que a aceitação do erro faz parte de uma gestão inovadora. Não acertar de primeira e tentar vários caminhos antes de encontrar um que funcione é normal quando estamos buscando a transformação.

Assim como um nadador precisa aprender vários estilos e técnicas antes de encontrar sua melhor versão, os profissionais também precisam de espaço para testar e arriscar. Mesmo quando o resultado não é o esperado, há muito valor no aprendizado, o que no longo prazo compensa as perdas.

O líder deve estar atento para não desestimular essa dinâmica. Se alguém da equipe tem uma ideia a princípio boa, mas que não se desenvolveu como o esperado, o gestor não deve culpar o profissional pelo erro. Essa conduta inibirá outras ideias que poderiam ser um sucesso. Quando algo dá errado, procure identificar o que esse episódio ensinou e como ele aumentou o conhecimento do time. Além disso, olhe para a causa do problema para não repeti-lo.  

4. Trabalhe em equipe

Algumas pessoas com quem converso pensam que a natação é um esporte solitário. Porém, para o atleta se destacar, ele depende de muitos outros profissionais. É um trabalho em equipe. Lembro-me do quanto ficava motivado pelos meus treinadores. Eles criaram um ambiente estimulante o suficiente para eu não ter medo de ousar, ser capaz de acordar cedo todos os dias, incluindo nas frias manhãs de inverno.

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Da mesma maneira, no universo corporativo, muita coisa depende do nosso esforço pessoal, mas a vontade de fazer diferente e melhorar a cada dia é potencializada pelo ambiente e pelas pessoas ao nosso redor. Com líderes inspiradores e um contexto com ingredientes como talentos, confiança, liberdade, reconhecimento e sinceridade, tudo flui.

* Gabriel Domingos é diretor de marketing da Vivo Empresas, onde iniciou sua carreira há 21 anos como estagiário. É investidor de startups, mentor e membro da Anjos do Brasil. 

Opinião por Gabriel Domingos
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