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Opinião|Conexão com o trabalho nas férias pode ser viável, se regras forem seguidas

Para especialistas, profissional deve setorizar seu dia de férias com hora determinada para checar mensagens e chamadas; planejamento pré-descanso é necessário

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Atualização:

Jéssica Díez Corrêa ESPECIAL PARA O ESTADO

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A empresária Giseli Lima, de 55 anos, está em recuperação de um vício inusitado, mas que atrapalhou bastante sua vida há alguns anos: o vício na tecnologia. O problema veio em decorrência do trabalho.

Em 2015, com sua corretora de seguros recém-inaugurada, ela, que portava um celular estilo "tijolão" e se dizia low-profile nas redes, mudou os hábitos radicalmente para atender a uma demanda que julgava necessária para o ofício. Comprou um aparelho moderno, dois computadores e passou a atender seus clientes indistintamente, no momento que fosse: fora do horário comercial, nos fins de semana e até durante as férias.

A experiência vivida pela corretora é compartilhada por muitos trabalhadores. As redes facilitam o acesso ao trabalho, a qualquer hora e em qualquer lugar. Afinal, que mal há em conferir o e-mail corporativo no fim de semana ou resolver um pepino fora de hora pelo Whatsapp?

 

Sem conseguir se desconectar, Giseli passava noites sem dormir e durante o dia estava cansada, o que afetou a vida em família. Foi por conselho de um amigo que a empresária se deu conta da dimensão do problema e recorreu à ajuda. Passou uma semana em um retiro de autoconhecimento, sem internet.

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"Eu fui morrendo de medo e pensava: 'Meu Deus do céu, como vou ficar sete dias sem falar com ninguém? E se algum cliente me procura?' A gente acha que, se estiver offline e não ficar 24 horas atendendo demanda, ninguém vai poder fazer isso por nós. A gente não se dá conta de que não somos insubstituíveis", diz Giseli.

O hábito de se manter conectado mesmo fora do horário de serviço pode até ser comum aos brasileiros, mas não deixa de ser nocivo, especialmente nas férias. Pensando nisso, o Estado consultou especialistas e selecionou orientações para que funcionários e executivos aprendam a dosar trabalho e lazer, aproveitando os dias de folga neste verão.

Dicas

O primeiro ponto é avaliar se existe uma necessidade real de ficar conectado. "A pessoa tem de se perguntar se essa necessidade é por uma questão do negócio ou por uma questão dela própria. Às vezes, ficar conectado não é exigência da função, mas acontece devido à ansiedade do próprio trabalhador, e isso é prejudicial", afirma Elaine Saad, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).

Aqui, dois fatores devem ser considerados: a complexidade da função do profissional e o momento vivido na empresa. É natural que gestores de projetos, diretores e profissionais técnicos específicos tenham uma dificuldade maior para se desligar totalmente, em função de sua responsabilidade na companhia, diz Leonardo Berto, gerente de negócios da Robert Half Consultoria de Comportamento.

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Uma empresa que ainda seja muito nova e esteja em formação de carteira de clientes ou que trabalhe em setores ligados à sazonalidade da estação também merece um pouco mais de atenção.

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Planejamento

Determinada a necessidade real de permanecer conectado nas férias, a palavra de ordem é planejar. O planejamento começa no período pré-folga, quando o profissional prepara a equipe para o seu afastamento, dividindo informação e informando em que pé anda cada um dos projetos.

Já no destino de férias, o indicado por especialistas é que o trabalhador estabeleça regras no que diz respeito à carga de trabalho. Uma dica é setorizar o dia. Por exemplo, propor-se a passear com a família pela manhã e pela tarde, e checar seus e-mails por uma ou duas horas à noite. Ou deixar o celular desligado no hotel e só conferir mensagens quando retornar do dia de lazer.

Quaisquer que sejam as imposições criadas, é importante que o profissional avise os familiares ou amigos de suas próprias regras. Assim, eles poderão fiscalizar o cumprimento delas e também não ficarão chateados por conta das horas dedicadas ao trabalho.

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"Às vezes, ficar conectado não é exigência da função, mas acontece devido à ansiedade do próprio trabalhador, e isso é prejudicial"

Elaine Saad, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos

Além disso, os funcionários, colegas de trabalho e eventuais clientes da empresa devem ser informados sobre quais serão os momentos de disponibilidade durante o dia.

O trabalhador também deve programar uma mensagem automática no e-mail corporativo, avisando a data de retorno e o prazo para resposta de demandas. Caso o negócio seja próprio, pode-se deixar avisos no site e nas redes sociais informando aos clientes o período de fechamento. Essas precauções são úteis para reduzir a quantidade de ligações de desavisados.

É necessário lembrar, dizem os especialistas, que as férias são um direito do trabalhador e servem para descarregar o estresse do ambiente corporativo e relaxar. "A lógica técnica é exatamente essa. Trabalhamos muito no final do ano, tivemos uma sobrecarga de trabalho e, por conta disso, vamos fazer uma pausa, para que possamos descansar e renovar as energias para o próximo ano. Férias é sinônimo de qualidade de vida", afirma o psicólogo e professor Luiz Francisco Junior.

Giseli tem planos definidos para este verão. A empresária deve passar a virada para 2019 em Ubatuba, litoral norte, na companhia da mulher, Nice, e das filhas, Ana Carolina e Maria Fernanda, de 12 e 10 anos. E o celular, também vai? "Só para emergências. O foco é curtir a minha família."

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