2021 foi um ano de avanços na agenda de diversidade e inclusão no meio empresarial. A principal razão para isso se deve ao protagonismo que conquistou o tema ESG, sigla que resume as iniciativas ambientais, sociais e de governança das organizações. Pressionadas pelos investidores, as empresas precisaram acelerar o passo e dar provas concretas de seu compromisso com mudanças.
O ano que se inicia promete ser intenso. A pandemia resiste, a economia vai mal e as eleições devem ser sangrentas. Como se não bastasse, tem até uma Copa do Mundo e o bicentenário da Independência no horizonte – data que deve mobilizar discussões acaloradas e acionar discursos ufanistas de todo tipo.

Em 2022, devemos ver investimentos em programas de aceleração de carreira, com o objetivo de capacitar para posições mais seniores. Foto: Nappy
Sairá na frente quem mantiver foco no que realmente importa. Pensando nisso, apresento aqui algumas apostas para o tema diversidade e inclusão em 2022. As tendências não partem de nenhuma bola de cristal, mas da observação criteriosa que meu time e eu temos feito do mercado no Brasil e no exterior. Vamos lá?
- 2022 será o ano da transparência: O debate sobre diversidade e inclusão cresceu bastante no meio empresarial brasileiro nos últimos cinco anos. Agora, é a vez de quem diz que faz mostrar como e o que faz. Quem deu a largada foi a Comissão de Valores Mobiliários, espécie de xerife do mercado. Nos últimos dias de dezembro, a CVM publicou novas orientações para as empresas de capital aberto. A partir de agora, elas precisam informar a representatividade de gênero, raça e idade por degrau da hierarquia. Quem ainda não fez um censo demográfico vai precisar correr.
- Diversidade na cadeia de valor: Foi-se o tempo em que se podia terceirizar as responsabilidades. Será cada vez mais importante que as empresas inspirem seus fornecedores a criar políticas de inclusão e a desenvolver ações afirmativas. No médio prazo, isso será critério para a manutenção da prestação de serviços. A Gerdau puxou a fila. Em entrevista ao Estadão, o CEO Gustavo Werneck anunciou que, em breve, fornecedores sem programas de inclusão não poderão mais trabalhar para a gigante siderúrgica.
- A volta do presencial. Depois de quase dois anos de pandemia, a expectativa para 2022 era de um refresco. O número de infectados pela variante ômicron neste início de ano, porém, frustrou muita gente e devolveu milhares para o home office em período integral. Quando isso passar, as empresas precisarão desenvolver experiências que justifiquem a ida ao escritório. Não faz sentido se deslocar para fazer videoconferências no ambiente de trabalho. Nesse contexto, apostamos no retorno dos treinamentos presenciais como uma experiência de interação engajadora.
- As pessoas precisam falar. A pandemia é um trauma coletivo. Muita gente perdeu pessoas queridas. Outras tantas, engravidaram, casaram-se, adoeceram ou trocaram de emprego desde aquele março de 2020, quando a Organização Mundial da Saúde decretou estado de emergência global. Não dá para ignorar isso. Nas interações presenciais, será importante abrir espaço para a troca de experiências e também para as pessoas se conhecerem melhor. É uma oportunidade para tratar de empatia e vulnerabilidade.
- Desenvolvimento de talentos diversos. Quem acompanha o mercado de perto sabe que se instalou um verdadeiro rouba-monte entre as empresas. Preocupadas em melhorar seus números, companhias atraem lideranças, sobretudo mulheres e pessoas negras, das concorrentes. Faz parte do jogo, mas não é sustentável. Para 2022, devemos ver ainda programas de trainee com foco em grupos minorizados e o investimento em programas de aceleração de carreira com o objetivo de capacitar para posições mais seniores.
- Luz no social. O ESG ganhou destaque inédito no meio empresarial brasileiro em 2021. A maior parte das organizações colocou energia nos compromissos ambientais. Sem prejuízo desta pauta, o ano que começa deve ver avanços nos aspectos sociais. E aí será preciso enfrentar dois grandes problemas brasileiros: o racismo estrutural e a crescente desigualdade social.
- Gerações em foco. A novíssima Geração Z, que tem diversidade como um valor inegociável, já ameaça a soberania dos millennials, que se aproximam dos 40 anos. Por outro lado, os 50+ continuam em boa forma e com desejo de produzir. Será preciso investir nas trocas entre gerações e em programas que garantam oportunidade para os jovens, alvo preferencial do desemprego, e chance de recomeço para os mais velhos.
- O que não é medido não é gerenciado. Para avançar, as empresas precisarão apostar em diagnósticos consistentes de sua situação atual, além de se comprometer com metas e compromissos públicos. Deve crescer a tendência de associar a remuneração variável das lideranças aos resultados em inclusão.
- O conselho entrou na sala. Antes alheios ao tema, e imersos em demonstrações financeiras, os conselhos de administração devem se aproximar ainda mais do tema diversidade em 2022. O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) deu a largada e divulgou posicionamento sobre o tema. O desafio aqui começa com a própria capacitação de conselheiros para o assunto, que devem precisar de letramento adequado para a pauta.
- Polarização acentuada. O ano será marcado por eleições majoritárias. No último pleito presidencial, a pauta de diversidade esteve no centro do debate, sobretudo a partir de falas preconceituosas de Jair Bolsonaro e da enxurrada de fake news sobre a questão LGBT. Não deve ser diferente agora, salvo por um agravante. O cenário polarizado aponta para violência nas ruas e nervos à flor da pele dentro das empresas. A essas, caberá distensionar o ambiente, comunicar com clareza por que acreditam no tema e reiterar o óbvio: esta não é uma pauta partidária. Diversidade e inclusão são atributos fundamentais para a sociedade e imprescindíveis para o crescimento dos negócios.
Por fim, mais um desejo do que uma tendência, embora dependa de nós transformá-lo em realidade: 2022 precisa ser o ano em que o Brasil compreenda que diversidade é a sua maior riqueza. O mundo caminha para um novo modelo econômico, pautado na ética, na inclusão e no respeito ao meio ambiente. O país tem potencial para liderar este momento e alcançar destaque no cenário internacional, distribuindo melhor as oportunidades e sem deixar ninguém para trás.
* Ricardo Sales é sócio-fundador da consultoria Mais Diversidade, mestre pela Universidade de São Paulo e professor na Fundação Dom Cabral (ricardo@maisdiversidade.com.br).
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