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Opinião|É possível conduzir uma negociação salarial durante a crise?

Contexto da crise impacta poder de barganha, mas não define empregabilidade e possibilidade de acordos especiais, principalmente para mais qualificados, diz especialista em negociação salarial

Atualização:

A absoluta maioria dos negócios foi impactada seriamente com a crise. Apesar das medidas para minimizar as demissões, mais de 1 milhão de vagas de emprego foram extintas até maio, elevando o desemprego à nível recorde na pandemia do novo coronavírus.

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Como autor de livro sobre negociação salarial, sou frequentemente questionado sobre a possibilidade de negociação entre funcionários e empresa nesse cenário, uma vez que a única opção para os empregados parece ser simplesmente aceitar qualquer acordo proposto.

É fato que o poder de barganha dos funcionários é sensivelmente reduzido em momentos de crise, mas é preciso aprofundar essa análise. O contexto geral impacta, mas não define a empregabilidade e possibilidade de negociação de acordos especiais com a empresa. Antes de se desesperar com os números absolutos, é preciso analisar as estatísticas, considerando o perfil profissional individual.

Os empregos mais impactados nessa crise são os de profissionais com baixos salários e menor escolaridade. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicam que, das vagas fechadas no período, 75% eram entre um e dois salários mínimos. As vagas extintas acima de quatro salários mínimos representam menos de 4% do total. O menor índice de vagas fechadas (0,26%) foram as de remuneração acima de 15 salários mínimos.

Isso não significa que o profissional deve "ignorar a realidade", mas, sim, entender qual é efetivamente a realidade para seu perfil. O índice de fechamento de vagas é diretamente relacionado à qualificação. Cerca de 95% das vagas fechadas eram de profissionais que tinham o Ensino Médio como escolaridade máxima. Profissionais com nível superior completo respondiam por apenas 1% das vagas fechadas.

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Obviamente, profissionais com diploma superior, enquadrados nas faixas acima de quatro salários mínimos, que ainda assim foram demitidos, não terão sua situação financeira amenizada por essas estatísticas, mas devem refletir que sua empregabilidade é maior do que presumiam. Para os que estão empregados, é preciso analisar a situação específica em que a empresa se encontra e seu nível de importância para ela.

Situação atual da crise é preocupante, mas não determina destino do profissional. Ilustração: Black Illustrations  

Atualmente, manter o emprego deve ser prioridade, já que na crise é mais difícil conseguir recolocação imediata. Mas isso não impede um diálogo mais profundo. Toda negociação é uma oportunidade. Na celebração de acordos de redução de jornada, por exemplo, como o empresário tem interesse em garantir que o acordo seja assinado, essa pode ser uma chance de incluir outros aspectos que não inviabilizam a questão para o empregador, mas que são relevantes para o funcionário.

Para minimizar os efeitos de uma necessária redução temporária do salário fixo, pode-se tentar compensar essa perda com o estabelecimento de comissão sobre receitas adicionais geradas ou metas atingidas. Caso não haja essa possibilidade, pode-se tentar incluir no acordo flexibilidade de horários ou o trabalho por home office eventual após a pandemia. Também é possível negociar a inclusão ou incremento do plano de saúde. Ou a possibilidade de assumir projetos que gerem maior visibilidade.

A situação do desemprego é séria e preocupante, mas não determina o destino do profissional. Ainda mais para os que se enquadrem no perfil de vagas que foram menos impactadas pela crise e que tenham papel relevante na recuperação da empresa. A questão é buscar estabelecer um diálogo produtivo, demonstrando entendimento da situação, compromisso e capacidade de contribuição com a retomada e buscar formas criativas de atender aos interesses de ambos.

* Breno Paquelet é especialista em negociações estratégicas pela Harvard Business School, com educação executiva em Estratégia Empresarial no Massachusetts Institute of Technology (MIT). É professor do MBA em Gestão Empreendedora da Universidade Federal Fluminense (UFF), professor convidado da Casa do Saber/RJ e autor do livro Pare de Ganhar Mal (ed. Sextante).

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Opinião por Breno Paquelet
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